ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | As construções e apagamentos do olhar em O nascimento de uma nação |
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Autor | Felipe Corrêa Bomfim |
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Resumo Expandido | Este estudo tem o objetivo de investigar as relações étnico-raciais no campo da cinematografia e visualidades. Tomaremos como ponto de partida as construções e os apagamentos em O Nascimento de uma nação (1915), de D. W. Griffith, com enfoque particular em sua narrativa e visualidades, como forma de acionar o contexto histórico da obra e investigar fotografias da Guerra da Secessão, que descortinam a discussão sobre o ‘direito de ver’ e de ser visto. Podemos identificar um conjunto de elementos presentes na narrativa de O Nascimento de uma nação (1915) que nos remete às relações de poder na construção da imagens raciais em suas formas de representação. Tais jogos de poder nos permitem sublinhar possíveis privilégios que, segundo Dyer, envolveram as representações raciais da branquitude na cultura ocidental (DYER, 1997: 08). Neste sentido, observamos a construção da representação racial como processo instável e dissimulado de naturalização da imagem do branco, que passa a protagonizar, em um sentido visual, as relações humanas e a organização de um sistema visual da branquitude. Ao lançarmos mão de um estudo sobre a obra O nascimento de uma nação sob a ótica dos jogos de poder e as formas de privilégios nas relações étnico-raciais, podemos notar, primeiramente, a figura heróica (branca) encarnada na personagem do sulista Ben Cameron, assimilado pela trama por meio de um conjunto de atributos de uma branquitude forjada, como a capacidade, intelecto e virilidade. Em segundo lugar, a narrativa da obra nos permite um mergulho na historiografia norte-americana, que serve de pano de fundo para o desenrolar do melodrama. Notamos que referências mais profundas sobre o momento histórico específico do período da Guerra Civil Americana (1961-1865) são elididas e parcialmente ofuscadas pela trama.Tal ausência nos faz investigar sobre os contrapontos a essa ótica elaborada para a construção do filme e a figuração maniqueísta entre a imagem de brancos e negros na trama. Sendo assim, trazemos como referência balizas no campo fotográfico para discutir a imagem do negro impulsionada pelo contexto da Guerra Civil Americana, acionada pela obra O Nascimento de uma nação. Analisamos um conjunto de fotografias que problematizam o ‘olhar da autoridade’ branca (MIRZOEFF, 2011: 03), que acreditamos estar presente na obra O nascimento de uma nação. Lançamos mão de imagens da Guerra Civil Americana como contrapontos a esta perspectiva da autoridade branca, que discutem a imagem de figuras negras no sufrágio, a presença de tropas negras e seu engajamento no conflito armado. Investigamos imagens como as fotografias de Timothy O’Sullivan - sobre a greve geral de escravos em 1862 e a visibilidade dos olhares, intermediada pela presença da câmera, em um gesto de ‘reivindicação de direitos a uma subjetividade’, entendidas pela experiência sensorial – e as imagens de Henry P, Moore, realizadas no mesmo período, que se apropriam do olhar da ‘casa grande’, fotografando a casa de latifundiários sulistas de maneira inusitada, de modo a evidenciar como as ‘plantações foram projetadas para serem totalmente visíveis do ponto de vista do latifundário’ (MIRZOEFF, 2011: 90-91). Acreditamos que tais fotografias descortinam a discussão sobre o ‘direito de olhar’ e de ser visto (MIRZOEFF, 2011: 01), funcionando como contrapontos significativos de imagens da negritude, considerando suas lógicas constitutivas. Sendo assim, este estudo revisita imagens históricas, visões e narrativas redescobertas com o intuito de enfatizar a potência da autorepresentação e da performance que delineiam outras formas de visualidades, caras à imagem da negritude no campo da fotografia e cinematografia. |
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Bibliografia | DYER, Richard. White.Londres: Routledge, 1997. |