ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | A aparição do gesto no filme Era o Hotel Cambridge. |
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Autor | Beatriz Andrade Stefano |
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Resumo Expandido | Na tentativa de ampliar os estudos de gesto de Agamben no campo da comunicação, o artigo se propõe analisar o filme Era o Hotel Cambridge (2016), de Eliane Caffé. O documentário aborda questões sobre a luta pelo direito à moradia e os conflitos culturais entre brasileiros e refugiados ao acompanhar um grupo de ocupantes no edifício Cambridge, localizado no centro de São Paulo. Acreditamos que ele possui estratégias estéticas para uma discussão sobre o aparecimento do gesto a partir do uso dos tableaux vivants. Além disso, possui elementos que abrem caminho para uma reflexão sobre o gesto e o levante (DIDI-HUBERMAN, 2017) enquanto experiências políticas na imagem. A noção de gesto aparece de forma espaçada temporalmente no trabalho do pesquisador italiano e a partir da leitura de alguns dos seus textos podemos perceber as condições para a manifestação do gesto. Em Notas sobre o gesto (2015) ele desenvolve a ideia de que a burguesia havia perdido seus gestos no século XIX pontuada no seu ensaio sobre Kommerell que havia diagnosticado o sentimento de perda dos gestos na sociedade moderna, especialmente pela burguesia, e relaciona com as imagens técnicas. “No cinema, uma sociedade que perdeu seus gestos procura reapropriar-se daquilo que perdeu e, ao mesmo tempo, registrar a perda. ” (2015, p. 54). Na tentativa de reapropriação e registro da perda, Agamben cita o trabalho de Aby Warburg como exemplo. A construção do Atlas Mnemosyne não como um repositório de imagens imóveis, mas como “uma representação em um movimento virtual dos gestos da humanidade ocidental; (...) no interior de cada seção, cada uma das imagens é considerada muito mais como fotogramas de um filme do que como realidades autônomas. ” (2015, p.56). Outro exemplo citado é a ideia de Deleuze do cinema como imagem-movimento, as imagens cinematográficas não seriam compostas nem por “poses eternas”, nem por “cortes imóveis”, mas sim por “cortes móveis”. Assim, o conceito de imagem na modernidade deveria ser ampliado, pois a reflexão que Warburg iniciou de que a imagem é histórica e dinâmica rompe com a “rigidez mítica” da imagem e em seu lugar, teríamos o gesto como elemento central. A espécie de ligatio, um poder paralisante que é preciso desencantar, e é como se de toda história da arte se elevasse um mudo chamado para a liberação da imagem no gesto (2015, p. 57). O cinema atua desencantando esse poder paralisante da imagem, a liberando, enfim, para o gesto latente na imagem estática (seja ela uma escultura, uma pintura ou uma fotografia) (CRUZ, N.V, 2021, p. 3). Em Para uma Ontologia e Política do Gesto (2018) aparece uma primeira e incompleta definição, “o gesto não é um meio, nem um fim: antes, é a exibição de uma pura medialidade, o tornar visível um meio enquanto tal, em sua emancipação de toda finalidade (2018, p. 3) Diante disso, temos que estudos recentes trouxeram para o campo da comunicação tal conceito ampliando as possibilidades de análise de obras contemporâneas a partir da relação entre estética e política na imagem. Nina Velasco e Cruz (2021), atenta para um elemento essencial na compreensão da natureza do gesto: uma pausa súbita entre dois movimentos carregados de tensão que imobiliza e, ao mesmo tempo, enaltece e exibe o movimento. A questão da interrupção do movimento sublinha o poder expressivo do gesto e ao relacioná-la com o “dispositivo do tableau vivant” a autora defende a dialética entre imagem estática e imagem em movimento como constitutiva de tal dispositivo (2021, p.8). Eduardo Duarte, ressalta expressões políticas na imagem a partir do gesto que na sua ausência de finalidade, o corpo performa algo além do que conhece, a energia que eclode na forma torna o corpo desconhecido a ele mesmo pois não se trata de um movimento intencional, preso a uma meta dando ao corpo a libertação no gesto que pode explorar, conhecer e mostrar do que são capazes (2018, p. 41). |
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Bibliografia | AGAMBEN, Giorgio. O Autor como Gesto. In: Profanações. São Paulo: Boitempo. 2007. |