ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | A música e a estética barroca: uma análise de Lady Vingança (2005) |
|
Autor | Ana Maria Antunes Monteiro |
|
Resumo Expandido | Na década de 1990, teve início o fenômeno hanryu, termo cunhado por jornalistas chineses que significa “onda coreana”. Esse período foi marcado por uma série de medidas governamentais que buscaram fomentar a produção audiovisual. Por conta disso, Oliveira Júnior (2008) afirma que “o atual cinema coreano representa um fértil terreno de criação e reinvenção estética, sobretudo no trabalho com gêneros cinematográficos.” (p.321). Entre os diretores que se destacaram nesse período está Park Chan Wook. Conhecido pela Trilogia da Vingança, composto pelos filmes Simpatia para o Senhor Vingança (2002), Oldboy (2003) e Lady Vingança (2005), é interessante notar como o diretor trata o som durante os três filmes. No primeiro, ao apresentar um protagonista deficiente auditivo, o diretor brinca com os significados do som durante toda a trama e se vale de estratégias do cinema silencioso. Em Oldboy (2003), Park Chan Wook começa a experimentar possibilidades na trilha musical, por exemplo, ao utilizar um trecho da obra Inverno de Vivaldi numa sequência. Já em Lady Vingança (2005), o uso de uma trilha musical baseada em obras do período barroco é feito de uma forma sofisticada a fim de criar uma unidade estética no longa-metragem. Essa comunicação pretende apresentar uma análise fílmica de Lady Vingança (2005) a partir do viés da trilha musical. O diretor trabalha, paralelamente, o modelo hollywoodiano em que “a repetição, interação e variação de um tema musical durante um filme contribui muito para clarificar sua dramaturgia e estruturas formais” (GORBMAN, 1987, p. 91) além de trabalhar com sugestões narrativas e demarcações; e a crítica feita por Anahid Kassabian (2001) que considera uma análise em três pontos: a relação da música com o mundo narrativo; a percepção do espectador da música dentro do filme; e o que essa música comunica. Segundo Kassabian, as pessoas adquirem, ao longo da vida, uma linguagem musical de forma subconsciente. Há, então, usos de músicas relativos a outros eventos musicais, através de citações e alusões de composições do período barroco. Os leitmotivs das personagens principais, a senhora Geum Ja e sua filha Jenny, são, respectivamente, arranjos da cantata 'Cessate, omai cessate' de Vivaldi e ‘Mareta, mareta no'm faces plorar’, uma canção de ninar no século XVIII. As citações aparecem em várias outras músicas do período barroco que compõem as escolhas de trilha musical do longa-metragem. No entanto, a escolha de 'Cessate, omai cessate' como leitmotiv da protagonista faz parte de uma construção maior que envolve o roteiro e a direção artística. Os versos cantados falam de um eu-lírico que carrega um grande sofrimento, assim como Geum Ja, condenada pelo assassinato de uma criança e que, ao fim de seu cárcere, começa uma jornada em busca de redenção, tema bastante recorrente no Cristianismo. A direção de arte, ao longo da história e em imagens promocionais do filme, sempre apresenta a personagem com o rosto iluminado e, por vezes, com uma auréola na cabeça afirmando uma identidade santificada. Quanto ao tema de Jenny, as várias versões de 'Mareta, mareta no'm faces plorar' apresentadas ao longo da história retratam a expectativa e a busca de uma maternidade nos parâmetros judaico-cristãos de devoção, sacrifício e pureza. Tais escolhas contribuem na construção da eterna dualidade entre pecador e santidade presentes na religião e, consequentemente, numa estética barroca que é reafirmada durante todo o longa-metragem. |
|
Bibliografia | CANTATA RV 684 MusixMatch, 2020. Disponível em: . Acesso em 1º de fev. de 2020. |