ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | A práxis da cinematografia nos filmes 'Mulher do Pai' e 'Pasajeras' |
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Autor | Francieli Rebelatto |
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Resumo Expandido | Este trabalho dá continuidade a pesquisa doutoral no programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual da UFF, na qual analiso um conjunto de filmes contemporâneos realizados nas regiões de fronteira entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Na tese observo como os textos fílmicos apresentam e representam contornos da fronteira territorial; a cinematografia e a apreensão no quadro cinematográfico das paisagens que atravessam estes territórios e, por fim, os deslocamentos das personagens femininas nos territórios de fronteiras e no quadro cinematográfico. Em paralelo a leitura das obras realizadas por outros (as) cineastas, filmei meu primeiro longa-mentragem ‘Pasajeras’, em 2019, que também abordou, centralmente, a história de mulheres, territórios e paisagens entre o Brasil e o Paraguai. No percurso de pesquisa, chamou-me atenção o trabalho criativo compartilhado pela diretora Cristiane Oliveira com a diretora de fotografia Heloisa Passos, em particular, o quanto as propostas da cinematografia interfeririam na finalização do próprio roteiro do filme e das escolhas estético-políticas das duas realizadoras. Na realização do filme ‘Pasajeras’, Luciana Baseggio e eu compartilhamos um processo criativo que nos exigiu elaborar um pensamento cinematográfico que pudesse revelar e imprimir as particularidades de uma fronteira, por um lado, popularmente conhecida por ser a ‘terra das cataratas do Iguaçu’ e do comércio com o Paraguai, por outro, um território desconhecido imageticamente a partir da história de suas gentes que ali sobrevivem todos os dias. O trabalho e a sensibilidade técnica e estética da diretoria de fotografia Luciana Baseggio deu o tom para que o filme ‘Pasajeras’ conseguisse traduzir, do roteiro à cena, as várias camadas narrativas e imagéticas que mostraram no filme maior complexidade sobre a realidade da fronteira, suas paisagens, imaginários e a vida cotidiana das mulheres trabalhadoras em cena. Rogério Luiz Oliveira (2019) argumenta que o trabalho do (a) fotógrafo (a) parte da sua habilidade técnica em transformar intenções em materialidade fílmica, e, por isso, é importante reconhecer este profissional como um ‘escultor de materiais, dando forma às suas matérias de trabalho’, acrescenta, ainda: 'Há, nesse sentido, uma intervenção do fotógrafo, seja na definição dos controles de diafragma ou obturador, na escolha de um determinado tipo de filme, de um ângulo de ataque ou mesmo na espera pelo momento em que a luz irá incidir sobre a superfície filmada’ (OLIVEIRA: 2019, p. 75) A intervenção da cinematografia na construção da diegese é estruturante por que perpassa toda criação cinematográfica desde a tradução do roteiro para o mundo da visualidade, em especial, na materialização visual da história por meio de diferentes procedimentos estéticos mediados pela tecnologia e pelo trabalho criativo do (a) fotógrafo (a). A consciência das fotógrafas nos dois filme, ou seja, no seu papel de transformação das intenções das diretoras em materialidade visual, se somaram a necessidade de intervir e potencializar a relação da cinematografia com o espaço físico, ou seja, com a apropriação das diretoras de fotografia sobre um espaço, neste caso, um território de fronteira. Partindo das suas sensibilidades para entender como a luz ambiente e/ou natural interfere nestes espaços, as fotógrafas tiveram que propor mediações tecnológicas (escolha de câmera, lentes, equipamentos de iluminação, entre eles, refletores, etc) para compor a espacialidade cênica o que envolve escolhas estético-políticas que estarão contidas no campo fílmico também apontando limites ao próprio quadro cinematográfico. Por fim, me interessa relatar e apontar como as escolhas que estão fora-do-quadro, ou seja, nesse diálogo entre diretoras e fotógrafas, partem também das necessárias respostas que o próprio cinema tem que dar ao seu tempo histórico e as questões que movem a complexidade da práxis cinematográfica. |
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