ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | A paisagem é um mapa: André Novais Oliveira e as operações do olhar |
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Autor | Samuel Alves Moreira Brasileiro |
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Resumo Expandido | A presente comunicação pretende analisar as aproximações entre a paisagem e o cinema como abordagem espacial da encenação a partir dos filmes do diretor mineiro André Novais Oliveira. O estudo na paisagem no cinema parte das noções clássicas do conceito a partir das artes pictóricas, proporcionando uma compreensão da construção do olhar para o espaço e para as imagens. A paisagem é conceito espacial e também estético. Ângela Pryshton (2018) destaca que a paisagem não é um dado a priori de análise já que ela é desenvolvida na pintura do século XVI e XVII, resultando na criação de técnicas como a linha de fuga e a perspectiva. Entendemos a importância da paisagem a partir do que Martin Lefebvre (2006) chama de paisagem autônoma. Para o desenvolvimento de nosso estudo, realizamos três filmes-ensaios montados a partir de cenas de Fantasmas (2010), Domingo (2011), Pouco Mais de um Mês (2013), Ela Volta na Quinta (2014), Quintal (2015) e Temporada (2018), colocando-as em paralelo a partir de uma operação de comparação inspirada na série de vídeos Parallel I-IV, do cineasta Harun Farocki. Os filmes-ensaios da se intitulam Contagem, paisagens conjuradas, Quadro e janela, operação do visível e Espaço, paisagem e narrativa. A proposta metodológica se propõe a pensar as abordagens espaciais na direção de Novais Oliveira a partir da matéria dos seus próprios filmes para que, desse modo, analisemos questões ligadas à paisagem, ao olhar, ao quadro e ao espaço cinematográfico. Para enfim, percebermos como a autonomia da paisagem estabelece um posicionamento ético e estético diante do mundo. Para a metodologia dos filmes-ensaios, dialogamos com as pesquisas sobre o estado do vídeo como uma forma que pensa (DUBOIS, 2004). Percebemos que os autores que discutem o espaço cinematográfico tecem cruzamentos entre diversos campos. Nelson Brissac Peixoto (2003), em seu livro Paisagens Urbanas, parte de conceitos do urbanismo, dos estudos sobre a modernidade de Walter Benjamin e da arte urbana para discutir o lugar da paisagem no mundo contemporâneo, traçando um paralelo com a história do cinema e do aparato cinematográfico. Também é o caso de Antoine Gaudin (2015) com o seu livro L'espace cinématographique: Esthétique et dramaturgie, que a partir da aproximação entre a mise en scène e a fenomenologia, reflete sobre qual o espaço que vivenciamos no cinema. Para ele (2015, p. 73), é necessário analisar a imagem-espaço de um filme, que é estabelecida pela valência espacial das escolhas estéticas (tamanho do enquadramento, profundida de campo, duração do plano) e também pelo modo como o espectador experimenta o espaço inscrito no filme. Gaudin (2015, p. 63) propõe pensar os filmes como “fenômenos espaciais neles mesmo”. Desejamos analisar como os filmes Novais Oliveira desenvolvem operações do olhar, que nos reposicionam diante dos espaços filmados. As paisagens, sejam elas de Contagem, Belo Horizonte ou de fotografias retiradas na internet, constroem uma ponte entre o aparato cinematográfico e o espaço filmado. Em seus filmes, as paisagens são construídas a partir de um olhar afetivo para a geografia (CHAUVIN, 2019) com uma abordagem geopoética (GAUDIN, 2015), rompendo com a obrigatoriedade de uma relação funcional entre espaço e narrativa. Para analisar a complexidade do espaço cinematográfico e a paisagem, dialogamos também com Michel de Certeau (2014) a partir de seu texto Relatos de Espaços, no qual ele irá diferenciar lugar de espaço a partir das práticas espaciais, Anne Cauquelin (2007), com seu estudo sobre a invenção da paisagem, Jean-Louis Comolli (2015) e Jacques Aumont (2004), que analisam a construção do quadro cinematográfico a partir de uma crítica ao regime de visibilidade contemporâneo. Neste artigo nos propomos entender, a partir dos filmes de André Novais Oliveira, como a paisagem é um gesto de organização do olhar em relação ao mundo. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. O olho interminável: cinema e pintura. Cosac Naify. São Paulo, 2004 |