ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | DESVIOS NA IMAGEM: A INSCRIÇÃO GRÁFICA NO FILME A PAIXÃO DE JL (2015) |
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Autor | Giulianna Nogueira Ronna |
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Resumo Expandido | No percurso, em que a palavra escrita, os desenhos e os traços, quando vistos e lidos na visualidade, produzem aproximações e desestabilizações, esbarramos em um espaço amalgamado, carregado de atravessamentos mútuos entre o cinema e um tipo de escrita. Um ponto de fratura, uma linha de fuga na imagem cinematográfica, como sugere Conley (2016), capaz de fragmentar e perturbar a representação e a legibilidade do que é dado. Nesta relação entre o ver e o dizer, as palavras e os desenhos inscritos subvertem a ordem e a dependência puramente narrativa, colocando-se na mesma camada daquilo que promove reflexões e questionamentos acerca da forma e da linguagem. Uma vez duplicada, espelhada ou atravessada pela instância gráfica, a imagem passa a constituir-se, também, pelo movimento entre as formas ali inscritas, atribuindo à palavra uma outra qualidade exterior à sua simples representação. Ao cinema, cabe acolher este movimento, uma vez que destitui a escrita dos seus modelos miméticos, oportunizando uma distância entre o que é visto e o que é dito. Interessa, então, indagar como a palavra escrita e o traço gráfico, em suas variadas formas de contaminação, sobreposição e dissociação, modificam o fluxo narrativo, sua percepção, e o sentido do que é visto e do que é lido, introduzindo na visualidade, na simetria e na regularidade, rupturas e desvios. Para tanto, trago uma reflexão acerca do filme A paixão de JL (2015) de Carlos Nader, no qual identifico uma visualidade fraturada pelos elementos gráficos ali inscritos, na qual desenhos, memórias, citações e anotações, bem como gestos de escrita, são misturados a arquivos pessoais e arquivos históricos, com referências diversas, resultando em uma plasticidade, uma espessura temporal, a qual, ordenada pela montagem, irá borrar as fronteiras entre o biográfico e o autobiográfico, o público e o privado, o documentário e a ficção. Construções que parecem se debruçar sobre si mesmas questionando seus limites representativos, expondo excessos, textos submersos e imprevisibilidades. Ao aproximar arquivos históricos aos gestos biográficos, aquilo que é narrado passa por uma ressignificação em ambas as dimensões, uma vez que os documentos ali reinscritos, tomam outro sentido, passando por um agir que expõe não somente a imprevisibilidade do arquivo, como questiona a predominância da palavra e também da imagem, aproximando-se daquilo que para Fernand Deligny (2015) resiste, atravessa, falta e ao mesmo tempo se impõe, quando a imagem aponta para aquilo que está fora, além dos limites do quadro, como algo que, ao mesmo tempo, revela, como também isola e reserva. Se para Deligny (2015) as imagens contaminadas pelo peso dos sentidos e dos discursos, tendem a uma imobilidade contrária a sua asserção originária, é preciso destituí-las dessas camadas, abrindo o acesso àquilo que está fora da linguagem. Para o autor, está no cinema, ao proceder por desvios, a circunstância ideal para uma aproximação do que seria essa visualidade. O que acontece “no meio”, no intervalo, ou naquilo que falta, no ausente, fora do quadro, entre o filme e o espectador e, ao mesmo tempo, aparece enquanto traço permanente, como repetição, uma forma de se aproximar do em um sistema de permanentes tensões, um vir a ser de uma imagem que não se reduz aquilo que pode ser visto, mas que está sempre na imanência de tornar algo visível. Dito isto, a proposição é de que estamos diante de uma escrita-desvio, algo que se coloca como uma dupla inscrição, servindo à narrativa, e também favorecendo o caráter disjuntivo na visualidade, algo que se dá no intervalo, naquilo que falta ou naquilo que resta. Desta forma, busco entender quais as implicações estéticas e políticas emergem da inscrição gráfica e tipográfica na imagem sujeita a transformações, releituras e sobrevivências. |
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Bibliografia | CONLEY, Tom. O filme acontecimento. In:ROWLAND, Clara; CONLEY, Tom. Falso Movimento: ensaios sobre escrita e cinema. Lisboa:Cotovia, 2016. |