ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | A imagem entre os corpos: do outro filmado ao corpo do espectador |
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Autor | João Vitor Resende Leal |
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Resumo Expandido | Este trabalho propõe uma investigação teórica acerca do corpo humano no meio audiovisual a partir do conceito de presença. Partimos da proposição de que o audiovisual, ao converter o corpo em signos visuais e sonoros, atenuaria sua “presença mesma” e sua “alteridade fundamental” (Landowski, 2004). Argumentaremos que, a despeito dessa atenuação, a mediação exercida pela imagem pode engendrar outras formas de presença – um efeito de presença ou, numa formulação que beira o paradoxo, uma “presença mediada” capaz de preservar e de amplificar o impacto sensível e imediato que o sujeito filmado exerce sobre o espectador. A fim de delimitar e orientar a investigação dessa “presença mediada”, traremos para o debate três obras que deliberadamente articulam corpo e imagem de maneira a interpelar, afetiva e fisiologicamente, o corpo do próprio espectador: O ato de ver com os próprios olhos (Stan Brakhage, 1971), Centers (Vito Acconci, 1971) e Marca registrada (Letícia Parente, 1975). A partir destas obras, desenvolveremos as seguintes questões: como falar na presença de um corpo ao qual só temos acesso na/pela imagem? Que estratégias permitem à imagem sustentar o efeito de presença do corpo que ela dá a ver? É possível ao espectador experimentar o corpo-imagem do modo radicalmente sensível e imediato postulado pelo conceito de presença? Como isolar, descrever e analisar uma experiência dessa ordem? A reflexão teórica demandará uma aproximação do meio audiovisual com os campos vizinhos dos estudos literários, da performance e da arte digital. Veremos que, se o conceito de presença tem suas raízes em autores originalmente preocupados com as materialidades da comunicação (Zumthor, 2007; Gumbrecht, 2010), ele tem se renovado por meio de estudos ligados ao corpo e à imagem. Nas artes do corpo, por exemplo, ele reverbera no “teatro energético” de Artaud (Lyotard, 2011), na noção de “arte como veículo” de Grotowski (2007) e no “teatro pós-dramático” de Lehmann (2011), ganhando ainda mais força nas performances não representacionais (Fischer-Lichte, 2008). Já na interseção entre arte e tecnologia, como identificado de modo pioneiro por Flusser em sua reflexão sobre a “arte cibernética” (Flusser, 1973), o conceito de presença se associa à concepção de um espectador/visitante/usuário/jogador que age sobre a imagem e tem seu comportamento orientado por ela (Dixon, 2007; Baio, 2015). Não nos interessa sustentar que dispositivos audiovisuais historicamente consolidados (cinema, vídeo-arte) explorem nem a copresença física entre espectadores e performers, nem o jogo direto com a materialidade da imagem. Ainda assim, esperamos que a aproximação com tais campos vizinhos possa aprofundar a compreensão do corpo em sua condição de imagem (Schaeffer, 2006; Miranda, 2011) e, com isso, iluminar as relações entre o corpo-imagem e o corpo do espectador no meio audiovisual. Nesse sentido, abordaremos em particular o problema do reconhecimento do outro que o corpo-imagem coloca à nossa frente: em sua dimensão de presença, o corpo-imagem não deve ser tomado (não apenas) como um personagem ficcional, uma representação, um signo cujo significado deve ser extraído pela interpretação; antes, ele manifesta um sujeito cuja existência se equipara à nossa. Na dimensão da presença, portanto, o outro não se deixa solucionar cognitiva e intelectualmente – o espectador deve acatá-lo afetiva e fisiologicamente, em sua plena alteridade. |
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Bibliografia | BAIO, C. Máquinas de imagem. São Paulo: Annablume, 2015. |