ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | O diálogo paródico na produção criativa de Woody Allen. |
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Autor | Alexandre Silva Wolf |
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Resumo Expandido | O cinema contemporâneo utiliza diversos meios criativos de construção narrativa em paralelo com os processos artísticos da pós-modernidade. Uma dessas manifestações é a produção de textos fílmicos em formato de paródia. Muito além de um efeito sintomático da arte de nosso tempo, a paródia, utilizada pela linguagem cinematográfica, se dobra sobre si mesma como se estivesse num jogo de espelhos. Não trata-se de um mero sinônimo de pastiche, que une partes diferentes de uma obra ou de várias obras em busca de um resultado crítico, ela surge como efeito metalinguístico, como um comentário sobre um texto anterior, próprio ou emprestado. Para Linda Hutcheon, "a paródia é uma forma pós-moderna perfeita, pois, paradoxalmente, incorpora e desafia aquilo a que parodia. Ela também obriga a uma reconsideração da ideia de origem ou originalidade'. (Hutcheon, pg. 28, 1991). A especialização da arte levou artistas a buscarem diálogos não somente com suas realidades, mas também com a própria linguagem de seus gêneros artísticos. Por esse caminho, a paródia surge como um jogo intertextual. Um diálogo que pode ser explicado a partir do que Julia Kristeva compreendeu ao se debruçar sobre as noções bakhtinianas de polifonia, dialogismo e heteroglossia, as múltiplas vozes de um texto. Para Kristeva, "o enunciado poético é um subconjunto de um conjunto maior que é o espaço dos textos aplicados em nossos conjuntos". (KRISTEVA, 1974, p. 174). Ela desenvolveu uma teoria formalista que apresenta a pluralidade de textos dentro e por trás de outros textos, desviando da noção de autor para a ideia de produtividade textual. Harold Bloom, percebe essa prática com um dos possíveis movimentos propostos, tratando-se da intratextualidade entendida como o diálogo entre os textos, como dois ou mais textos se interpenetram e influenciam um ao outro em suas formulações estéticas, em seus significados. Ele dá a essa relação o nome de “Relação Intrapoética" e, acrescenta que “ poetas fortes quando enfrentam a tradição, quando enfrentam aos seus precursores ou antecessores, aos quais “roubam”, saqueiam, mas também transfiguram ou recriam” (BLOOM, 2002, p.128). Uma obra extensa como a do cineasta americano Woody Allen, analisada a partir das reflexões anteriores, pode apresentar um modo, uma forma que, em alguns momentos se repete, gerando produtos únicos e criativos, que utilizam a paródia como elemento chave dessas construções textuais. Esse artista traz para sua obra algumas características recorrentes que nos levam a perceber traços constantes e característicos de sua produção artística. Essas relações podem ser compreendidas como diálogos que acontecem em dois sentidos, internos e externos na construção de suas narrativas e, desenvolvem ao longo de sua carreira uma quantidade de obras que guardam entre si muitas características e similitudes com objetos externos, mas também com internos de sua obra. Este trabalho busca analisar as relações e diálogos paródicos propostos por Allen, nas mais diversas possibilidades que essa forma de construção narrativa permite, partindo do pressuposto de que esta é uma recorrência no seu fazer cinematográfico, caracterizado como uma de suas marcas como diretor e artista. Desde a homenagem a diretores como Ingmar Bergman, em Interiors (1978) e Another Woman (1988), ou a Federico Fellini em Stardust Memories (1980) e Alice (1990), ou a reconstrução do estilo cinematográfico de um período da história do cinema, o expressionismo, em Shadows and Fog (1991), o ato paródico se repete em todas as etapas da carreira do cineasta. Ele utiliza a paródia como lente, que exagera detalhes, foca em elementos dominantes, invertendo mas ao mesmo tempo propondo uma nova leitura, uma re-apresentação daquilo que já era conhecido. Como um músico arranjador que se apropria da obra alheia e lhe introduz maneiras pessoais de interpretação, gerando um novo texto original. |
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Bibliografia | ANDREW, J. Dudley. As principais teorias do cinema: uma introdução. Rio de Janeiro: Ed. Zahar, 1989. |