ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Grimórios em Movimento: A Arte de Méliès à Luz de Outros Fantasmas |
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Autor | Giordano Dexheimer Gil |
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Resumo Expandido | A proposta aqui é entender o cinema de Méliès como um prisma. Iluminado tanto pelo pensamento racionalista iluminista do Século das Luzes, quanto pelas áreas de sombras deixadas na arte e na cultura popular do Século XIX, sua obra refrata todo um espectro temático que, com a devida atenção, percebemos que ainda atinge questões essenciais da contemporaneidade. A metáfora óptica da refração, que invocamos com certa frequência, permite que, à exemplo da convenção das sete cores do espectro cromático, estabeleçamos uma delimitação do número sete, no que diz respeito aos elementos recorrentes percebidos nos mais de 170 filmes assistidos para essa pesquisa, e através dos quais pensaremos as questões do moderno, e por isso mesmo, os chamaremos de espectros de modernidade. São eles: I) O Mágico - através do qual pensamos a questão da individualidade do sujeito moderno, e a pulsão da auto-ficção contida em toda arte performática. II) O Fantasma - espectro que nos direciona para a discussão da materialidade. III) O Duplo - que invoca questões de autoscopia e o paradoxal sentimento de identidade e alteridade que percebemos principalmente a partir da reprodutibilidade técnica da imagem. IV) O Diabo - elemento que, mesmo quando surge com função lúdica, nos joga de volta na dúvida barroca entre divino e profano. V) O Sonhar - a prática onírica, que ganha outros contornos tanto pelo advento da psicanálise quanto pelo cinema, identificado com tanta frequência pela teoria como tendo muito em comum com a produção psíquica do sonho. VI) A Máquina Voadora - sinédoque da visão utópica de progresso, que rapidamente é convertida em distopia no século XX. VII) O Trem - topoi da modernidade que, para sempre, estará ligado ao nascimento do cinema, e que partilha com o cinematógrafo a possibilidade de tensionar o problema do movimento. É perceptível, a partir desse elenco, que essa pesquisa não foge à minha pulsão enciclopédica uma vez que invoco a estratégia da lista como medologia central, além de utilizá-la como permissão para uma certa liberdade ensaística quanto à forma a partir de cada um desses espectros, para perceber neles aquilo que Didi-Huberman chama de movimentos sedimentados ou cristalizados na imagem, que nos obrigam a pensar nos filmes de Méliès como momentos energéticos e dinâmicos. Algo semelhante ao que Siegfried Kracauer (1899 - 1966) também propõe a partir do cinema alemão dos anos 20: ele entende que um corpo de produções cinematográficas talvez seja a mídia perfeita para refletir o espírito do tempo, tanto por serem obras coletivas, quanto por serem destinados ao coletivo: "Ao gravar o mundo visível, não importa se a realidade vigente ou um processo imaginário, os filmes proporcionam as chaves de processos mentais ocultos" (KRACAUER, 1988, p. 17-20). |
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Bibliografia | ANDRIOPOULOS, Stefan. Aparições Espectrais: O Idealismo Alemão, o Romance Gótico e a Mídia Óptica. Rio de Janeiro: Contraponto Editora, 2014. |