ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Escada pro palhaço: direção de arte e comédia física na cidade moderna |
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Autor | Gianna Gobbo Larocca |
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Resumo Expandido | Entre tantas funções estéticas desempenhadas pela direção de arte no conjunto de uma obra audiovisual, este estudo trata do seu papel na elaboração da gag visual na comédia física (também chamada comédia “slapstick”) a partir de um paralelo entre as obras de Charles Chaplin e Buster Keaton e do cinema de Jacques Tati. Podemos afirmar que a direção de arte, além de funções de ordem simbólica, tem um papel decisivo na construção da mise-en-scène. A elaboração dos espaços onde os personagens circulam e dos objetos de cena que dão suporte à atuação são tarefas corriqueiras dos que se dedicam ao departamento. Na comédia física, esta tarefa pode adquirir reverberações quase dramatúrgicas, misturando-se ao trabalho do comediante. De modo geral, o mote principal deste tipo de comédia é o constante embate do personagem com o mundo físico da representação. Neste sentido, os espaços, anteparos, objetos, artefatos tecnológicos, além das peças de figurino, são explorados na cena como as limitações impostas ao ator cômico. Da mais trivial casca de banana ao andaime de um gigantesco edifício, os elementos de direção de arte configuram as asperezas do mundo e fornecem as condições para o desenvolvimento das gags. De outro lado, estes mesmos entraves são frequentemente subvertidos pelo personagem cômico, que deles tira partido para as suas soluções criativas e mirabolantes. Em resumo e para usar o jargão do gênero, a direção de arte é “escada” para o palhaço na comédia física. O paralelo dos autores escolhidos indica uma identidade não apenas de gênero e de emprego da direção de arte, mas também a mesma matriz de cultura material e tema espacial: a urbe moderna. No entanto, tratam-se de dois estágios distintos da modernidade. De um lado, a metrópole vibrante e perigosa do começo do século XX com suas novas máquinas e novas edificações em altura; de outro, a cidade transparente e normatizada do modernismo de meados do mesmo século. Em cada cenário, a direção de arte atua na interface com o corpo do ator, promovendo a gag e fornecendo uma leitura sensorial do mundo. Aos arranha-céus, carros em alta velocidade e engenhocas mecânicas que povoam a paisagem de filmes como “O enrascado” (“Cops”, Buster Keaton, 1922) e “Tempos Modernos” (“Modern Times”, Charles Chaplin, 1936) corresponde a performance acrobática do diminuto corpo humano na era das máquinas. Em contrapartida, as ruas excessivamente sinalizadas de “Meu Tio” (“Mon Oncle”, Jacques Tati, 1958) ou a cidade de vidro de “Playtime” (Jacques Tati, 1967) motivam os movimentos comicamente domesticados de Monsieur Hulot. Desta maneira, a análise comparada das obras indica um efeito duplo de continuidade e contraste que produz discursos sobre diferentes estágios da modernidade à medida que atualiza um repertório na qual a performance cômica está intimamente vinculada às configurações da direção de arte. Ademais, este repertório, profícuo nos seus comentários sobre a cidade moderna em sua cultura material e espacialidade – incluindo os espaços privados da casa –, instiga a investigar algumas manifestações audiovisuais produzidas na web durante a pandemia e que reverberam o gênero “slapstick”, produzindo coreografias cômicas em um novo cenário no qual o espaço urbano encolhe e nossas paredes particulares ganham nova magnitude diante do confinamento e da multiplicação nas telas de nossos dispositivos. |
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Bibliografia | BAZIN, A. Charles Chaplin. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006 |