ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Filmar a mãe: exercícios-fílmicos no confinamento do ensino remoto |
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Autor | Roberta Veiga |
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Resumo Expandido | Essa proposta dá continuidade a duas outras apresentações dos encontros da Socine (2019) e do Fazendo Gênero (2020-21) que, a partir da pesquisa que venho desenvolvendo no grupo Poéticas Femininas, Políticas Feministas (UFMG), abordavam o que chamei “formas de insubordinação cinematográficas ao mito do amor materno”. Em ambos os contextos, o interesse foi mapear e elaborar acerca de figurações cinematográficas do maternar – principalmente, a relação mãe e filha - que de alguma maneira tensionam ou resistem ao padrão heteronormativo e hegemônico de maternidade construído pelos dispositivos de controle machistas, biopolíticos e capitalistas. Tais dispositivos institucionais, discursivos, mediáticos, em suas forças constritoras, que, muitas vezes anulam a subjetividade feminina, criaram historicamente um modo de ser mulher que só se define em relação ao ser mãe, acompanhando, nesse sentido, um padrão mitificado, estereotipado, entorno da mãe sagrada, sacrificial e perfeita. Num primeiro momento, então, tratamos de filmes ficcionais que fazem oscilar as versões mitificadas da mulher-mãe, evocando subjetividades femininas que escampam ao modelo de reprodutoras e cuidadora integrais. Ao cinema caberia responder pela ficção como produtora de mundos possíveis do ser mãe, criados a partir de suas narrativas e mise-en-scènes. Em seguida, o cinema foi chamado a nos dar a ver a complexidade do vínculo entre mães e filhas, a partir de documentários no quais elas mesmas empunham as câmeras para filmar suas mães, de modo a tornar cada experiencia singular. Por serem elaborações cinematográficas processuais - incapazes de uma lida inteira com a relação -, tais experiencias se mostram lacunar e transbordam modelos rígidos (citamos filmes de Chantal Akerman, Naomi Kawase, Su Friederich, entre outras). Para essa apresentação da XXIV Socine, o tema das formas insubordinadas de maternidade no cinema permanece, porém, partindo para uma terceira abordagem que preserva a dimensão documental. Trata-se de figurações maternas que interessam menos no sentido de portarem disrupções do padrão mitificado, mas de complexificarem o contexto da maternagem por uma perspectiva feminista interseccional, que carregam as representações entorno das lidas sociais, de classe e raça, que se mostram duras no exercício de maternar durante o período da pandemia. Trago essa perspectiva através de exercícios-fílmicos elaborados por alunas do curso de Comunicação da UFMG, para a disciplina Cinema e Feminismo (2020/2), por mim ministrada no contexto do ERE (ensino remoto emergencial). Em pequenos curtas (os quais mostraremos trechos), essas jovens universitárias escolheram a própria mãe como personagem, amparadas na relação de intimidade, com intuito de manifestar a força das questões que implicam as mulheres política e socialmente de modo estético num momento de angustia próprio ao desamparo das trabalhadoras brasileiras no contexto da pandemia do Covid-19. A questão, enfim, que se coloca para essa comunicação passa pela proposta da disciplina Cinema e Feminismo, portanto por questões que envolvem a educação durante o ensino a distância, bem como o isolamento e suas frustrações, e a produção acadêmica e audiovisual nesse cenário. Portanto, trata-se agora de olhar não apenas para os filmes, sejam eles ficções ou documentários, em suas formas fílmicas, mas o processo que levou essas alunas a filmar a mãe, a situação de confinamento. Nesse sentido, a apresentação se constitui por três camadas: 1) pensar a função da disciplina em sua dimensão remota e o afluir em uma produção que retoma o feminismo no contexto do confinamento; 2) refletir sobre a posta em cena do olhar para mãe como dispositivo que revela algo mais do que a intimidade no momento de pandemia; 3) analisar esses curtas de modo a destacar questões do feminismo interseccional e matricêntrico, bem como cruzá-los com filmes de circulação realizados por cineastas mulheres brasileiras que portem um gesto feminista. |
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Bibliografia | BADINTER, Elisabeth. Um amor conquistado: o mito do amor materno. RJ: Nova Fronteira, 1985. |