ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | A crise ambiental e as estratégias de uma militância que não se verga |
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Autor | denise tavares da silva |
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Resumo Expandido | Esta comunicação foca os filmes “O Botão de Pérola” (2015), de Patrício Guzmán; “Viagem a los pueblos fumegados” (2018), de Fernando Pino Solanas e “Idade da Água” (2018), de Orlando Senna, trio de diretores “históricos” que explicitam, com estas obras que assumem a questão ambiental como chave temática, distintos caminhos estéticos e narrativos dessa militância político-ambiental latino-americana, urgente e engajada. Trata-se de uma “guinada” que revela a consistência das travessias engajadas destes cineastas octagenários – Senna e Guzmán completam 80 anos agora, em 2021, enquanto Solanas, faleceu em novembro de 2020, por Covid-19, com 84 anos – que, fiéis às posições críticas ao capitalismo e à sua mais perversa versão atual, o neoliberalismo, rearticularam seus posicionamentos, abrindo-se à temática da crise ambiental, mantendo-se, fiéis, a seus estilos e visões de mundo. Uma perspectiva que dialoga com o diagnóstico que de Mendoza (2015), para quem o cineasta de não ficção se baseia em documento mas também em “(...) uma suerte de invención, em donde las acepsciones de este término: invención, como acción y efecto de inventar”. Ou, talvez mais adequado ao que move este trio seja lembrar que “A utopia é indispensável à mudança social, com a condição de que seja fundada nas contradições da realidade e nos movimentos sociais” (LÖWY, 2014, p. 49). Na esteira do número significativo de documentários que têm problematizado os mais diversos aspectos dos embates ambientais que vivemos, a singularidades desses filmes oferecem um contraponto interessante, considerando-se que, a despeito da concordância política ampla (mas não total: lembremos do atual cenário brasileiro), ainda não é possível falarmos de um imaginário consolidado em torno da urgência da mudança de rumo em relação à degradação do meio ambiente, inclusive se observarmos os recentes governos “progressistas” da América Latina. Neste sentido, vale lembrar que “No século XX, não havia quem se opusesse ao ‘desenvolvimento’ – este tinha hegemonia absoluta. O bloco soviético o adotou como meta no marco do ‘desenvolvimento das forças produtivas’ (LANG, 2016, p. 26). Esse engodo, alerta a autora, contou com a adesão de muitos grupos políticos alinhados às interpretações dominantes da obra de Karl Marx. Agora, mudam de posição, em graus e posturas diferentes. “O Botão de Pérola”, de Guzmán, desenvolve sua narrativa assumindo como ponto de partida e eixo condutor, a relação desse país com a água. A escolha abre um trânsito lírico e sensorial, onde o diálogo com os povos originários do país e com os assassinados pela ditadura de Pinochet, constroem um vínculo trágico, íntimo e tocante ao mesmo tempo. Um tom distinto do que faz Orlando Senna em “Idade da Água”, documentário “costurado” por testemunhos da devastação e da luta política, em meio aos grandes planos abertos que reverenciam a força e grandiosidade da região amazônica. O filme de Senna, de certo modo celebra o “Bem Viver”, cuja proposta abriga um conceito plural de convivência harmônica de diversos saberes (ACOSTA, 2016). Ou seja, busca estabelecer “...um diálogo de saberes que mobiliza a sabedoria do ser humano articulada nos imaginários sociais... (LEFF, 2016, p.367). Já o filme de Solanas segue uma “missão” que o cineasta e político assumiu nos últimos 18 anos, que foi denunciar a devastação da Argentina causada pelos governos neoliberais. Peronista “de coração”, Solanas manteve-se fiel a seu modo de filmar: “O importante para mim era construir imagens – e não simples tomadas. O cinema americano nos ensinou, ao contrário, a decompor a realidade em tomadas, manipulando desta forma o tempo da obra” (SOLANAS in LABAKI, CEREGHINO, 1993, p. 36). Para ele, tal manipulação servia para prender a atenção do espectador exclusivamente na trama, o que caracteriza um cinema consumista. E este nunca foi seu propósito. Muito menos de Senna e de Guzmán. |
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Bibliografia | ACOSTA, Alberto. O Bem Viver – uma oportunidade para imaginar outros mundos. São Paulo: Autonomia Literária, Elefante, 2016. |