ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Passagem para o corpo |
|
Autor | Esther Hamburger |
|
Resumo Expandido | Na passagem do conto enxuto, publicado originalmente em janeiro de 1952, no espaço reduzido da provocativa coluna de jornal, que era também reproduzida na Rádio Club, por Procópio Ferreira, de segunda a sexta-feira às 20 hs, para um dos filmes mais populares da história do cinema brasileiro, em 1978, 26 anos depois, a narrativa sai dos espaços privados e burgueses – as residências do casal e do sogro - para ganhar espaços públicos emblemáticos da cidade maravilhosa do Rio de Janeiro. No filme, o que aparece no texto como suspeição motivada pelo testemunho do marido de um gesto bandeiroso, porém discreto, da esposa por baixo da mesa, “apenas isto: os pés de Solange por cima dos de Assunção ou vice-versa”, ganha corpo, se explicita e se diversifica. No filme o problema de Solange não é a traição, é uma espécie de compulsão alimentada pela violência do ato inicial e pela esterilidade do casamento, a impossibilidade do prazer na situação doméstica, que a aprisiona no papel da dona de casa. Ao encarnar Solange, Sonia Braga carrega para o filme a energia da mulher liberada e engajada, ativa na cena efervescente da contra-cultura dos anos 1970, estrela em ascensão, a articular as cenas teatral, cinematográfica e televisiva. Suas personagens são ativas nas relações sensuais e sexuais que estabelecem, alegres coreografias corporais, onde o riso dá o tom de brincadeira, para mencionar a denominação macunaímica para o tabu do intercurso nas culturas judaico-cristãs. Sonia Braga rouba a cena de Nelson Rodrigues com auxílio da música de Caetano Veloso e da alteração no princípio narrativo, que permite à sua personagem ganhar corpo e voz. Análise fílmica aborda a substituição do narrador presente no conto, pela música extra-diegética em arranjos instrumentais diversos, distorcidos, agudos, lento ou apressados, com ou sem a letra cantada. Observa-se também que a ausência do narrador oferece espaço para a performance de Sonia Braga e para sua voz, que assume, ao menos em parte a narração de suas próprias aventuras. O texto aborda essas modificações narrativas em relação aos diferentes dispositivos em que a narrativa ganha forma: a coluna de jornal; a versão radiofônica; o conto publicado na forma de livro e o filme. |
|
Bibliografia | Abreu, Nuno Cesar. O olhar pornô, a representação do obsceno no cinema e no vídeo. Campinas: Mercado de Letras. 1996 |