ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Governo, governamentalidade e imagens em movimento |
|
Autor | Arlindo Rebechi Junior |
|
Resumo Expandido | Depois da publicação de Vigiar e Punir (1975), Michel Foucault amplia seu campo de análise das relações e do exercício do poder. Seu centro de interesse passa a ser uma nova tecnologia de poder por ele denominada de biopolítica. A partir de então, nos seus cursos no Collège de France, em especial o “Segurança, Território, População” (1977-1978) e o “Nascimento da Biopolítica” (1978-1979), tornou-se central em suas pesquisas os conceitos de governo e governamentalidade, que passam a ser operacionalizados para refletir sobre os exercícios do poder na chave interpretativa da biopolítica. Tais cursos não só reiterarão suas teses de trabalhos anteriores, como as ampliará sob vários aspectos. Antes, com os trabalhos que formam o conjunto da primeira metade dos anos 1970, ele já havia afirmado que o exercício do poder estaria menos sujeito ao enfrentamento e ao combate, e mais sutilmente enraizado nas práticas e discursos sociais. A novidade passa a ser a atualização desse pressuposto e dizer que as tecnologias de poder se vinculam a uma noção de governo e às práticas e estratégias de governamentalidade. Duas formas de governo se mostram prioritárias em suas análises: o governo entendido como a relação entre os sujeitos, que se liga às formas de “governo dos outros” e nos revela sobre as maneiras de atuar sobre um ou mais sujeitos; o governo entendido como relação de si mesmo, na medida em que se pode regulamentar a própria conduta. Em Foucault, governamentalidade está ligado às formas de investigação das maneiras de governar, a arte de governar. Em seu curso “Segurança, Território, População”, estão definidos nitidamente os seus domínios de três formas distintas: (1) como “o conjunto constituído pelas instituições, os procedimentos, análises e reflexões, os cálculos e as táticas que permitem exercer essa forma bem específica, embora muito complexa, de poder que tem por alvo principal a população” (FOUCAULT, 2008, p. 143); (2) como “a tendência, a linha de força que, em todo o Ocidente, não parou de conduzir, e desde há muito, para a preeminência desse tipo de poder que podemos chamar de ‘governo’ sobre todos os outros – soberania, disciplina – e que trouxe, por um lado, o desenvolvimento de toda uma série de aparelhos específicos de governo [e, por outro lado], o desenvolvimento de toda uma série de saberes” (FOUCAULT, 2008, p. 143-4); (3) como “o processo, ou antes, o resultado do processo pelo qual o Estado de Justiça da Idade Média, que nos séculos XV e XVI se tornou o Estado administrativo, viu-se pouco a pouco ‘governamentalizado’” (FOUCAULT, 2008, p. 144). No campo das visualidades, é notável que muitas experiências do registro fotográfico que antecedem as práticas do primeiro cinema tenham como centro de preocupação o governo dos corpos, com a introdução, como demonstrou Jonathan Crary (2012), de técnicas para administrar a atenção dos sujeitos. É o caso, por exemplo, das formas de divertimento privado ou público promovidas pela estereoscopia. No campo do saber científico, as experiências de domínio dos movimentos dos corpos em Eadweard Muybridge e Éttiene-Jules Marey são também modelares. Sob a chave dos conceitos foucaultianos de governo e governamentalidade, essa comunicação se interessa por discutir a maneira como registros de imagem em movimento incorporaram práticas de governo dos outros e de governos de si. Para promover essa discussão foram escolhidos dois conjuntos distintos de filmes: (1) sequências documentais de Sociedade Anonyma Fábrica Votorantim (1922), de produção da Independência Filme, que foi realizado para a participação no evento de comemoração do centenário da independência, no Rio de Janeiro. (2) o segundo conjunto é formado por três filmes realizados dentro da série Brasiliana, no Instituto Nacional do Cinema Educativo (INCE), e que foram dirigidos por Humberto Mauro; são os seguintes filmes: Engenho e Usinas (1955); Cantos de Trabalho (1955) e Manhã na Roça: o Carro de Bois (1956). |
|
Bibliografia | CRARY, Jonathan. Técnicas do observador: visão e modernidade no século XIX. Trad. Verrah Chamma. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012. |