ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Mito e cinema em "Antígona – a resistência está no sangue" (2019) |
|
Autor | Alex Beigui de Paiva Cavalcante |
|
Resumo Expandido | Faz-se urgente pensar a reescrita a e a apropriação não apenas a partir de uma abordagem comparada tradicional em que se pese, sobretudo, pensar os níveis de proximidade e similitude entre o texto referente e os textos recriados, mas e, sobretudo, pensá-las através de uma comparação diferenciada, cuja capacidade do mito extrapola o campo estético e adentra-se no espaço político e social, ampliando em muito as possibilidades interdiscursivas. A ideia de diferença, nesse contexto, diz respeito à vida do texto na linguagem e na cultura, envolvendo, para além dos aspectos de similitude e de continuidade, aspectos potenciais de desvio de sentido, das condições e dos intertextos relacionados ao texto referente, transcriação linguística, tradução, apropriação do mito, e reconfiguração cultural do texto em outra língua e em outros dispositivos discursivos. Nessa perspectiva, o mito é visto como fênix que sustenta a proliferação de dispositivos e agenciamentos, acentuando sua representação estética, social, política, bem como atualizando seus modos de remodelagem e de leitura em diferentes contextos. Sob esse prisma, Antígona tornou-se um dos temas/dispositivos mais recorrentes dentro das artes, da filosofia e da história, fato que se deve, em muito, a capacidade migratória, regenerativa, apropriativa e expropriativa do mito. Para Slavoj Zizec: “Nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial, Ernst Jünger já celebrava o combate corpo-a-corpo como o autêntico encontro subjetivo: a autenticidade reside no ato de violenta transgressão, do Real lacaniano – a coisa enfrentada por Antígona ao violar a ordem da cidade – até o Excesso batailleano” (ZIZEC: 2003, p.20). O estudo comparativo entre textos e excertos provindos de diferentes idiomas, regiões e nichos de intertextualidade discursiva, facilita o confronto entre as obras e o método proposto pela Teoria da Comparação Diferencial (Heidmann, 2013), além de propiciar um melhor entendimento das matrizes culturais e estéticas em jogo no contexto internacional, nacional, regional e local. A partir da pesquisa textual, da narração, da descrição, da argumentação e da análise do discurso literário, Heidmann (2014) propõe um método comparativo diferencial e discursivo dos gêneros, das (re) escritas dos mitos, dos contos e da tradução, além de partir de uma abordagem interdisciplinar acerca do texto e de seus diversos contextos de (re)apresentação. É fundamental na proposta da pesquisadora a ideia de deslocamento da atenção dada à similitude em estudos comparativos para a ênfase dada à diferença, frente às zonas de deslocamento do escrito, do editorial e do iconográfico. Para Heidmann, o gênero não determina a obra, mas algumas obras tornam-se responsáveis pelo dinamismo do gênero no campo autoral, editorial e icônico. Assim, compreendemos que as relações existentes de texto para texto, de linguagem para linguagem, de imagem para imagem são de ordem diversa e estabelecida por limites que extrapolam os campos de sentido das fábulas e das adaptações narrativas, valendo-se também da noção de “apropriação”, “intertextualidade” e de “diferença”. Desde "Antigoni" (1961), de Yorgos Javellas, passando por "I Cannibali" (1970), de Liliana Cavani ao "Na kathesai kai na koitas" (2013), de Yorgos Servetas, o mito de Antígona desafia a gravidade em trânsitos e deslocamentos imprevisíveis. Sua queda aponta sempre para um ressurgimento que, em primeira e em última instância, significa sempre resistência. |
|
Bibliografia | BEIGUI, Alex. Dramaturgia em mosaico: o mito de Antígona no horizonte do provável ou para evitar a reprodução de um sentido universal dos clássicos. In: Revista de Estudos Teatrais Pitágoras. V. 5. Série 1. pp. 82-99. http://www.publionline.iar.unicamp.br/index.php/pit500 . |