ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Audiovisual on trajective |
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Autor | tatiana giovannone travisani |
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Resumo Expandido | Para desenvolver o uso do conceito audiovisual on trajective, partimos de uma colocação de Paul Virilio (apud. Redhead, 2004, p.111), ao afirmar trabalhar com a narrativa geográfica e urbana, não sobre o sujeito e o objeto, mas sim com o trajeto. Propõe, o uso da expressão “trajective” em adição as palavras “subjective and objective”, para abarcar eventos que estejam entre, em processo de ou numa ação contínua. Tal conceito pode ser aplicado ao método de produção de projetos audiovisuais que se apresentam durante sua própria elaboração, passível a múltiplas adaptações. São trabalhos que se caracterizam, primordialmente, pela construção narrativa não linear, onde os artistas compõe a obra durante seu próprio acontecimento, na execução simultânea de imagens, sons e dados em geral. São apresentações em que a improvisação e o acaso participam do processo criativo, permitindo que o resultado estético se desenrole junto à ação. O percurso histórico é essencial para a compreensão do audiovisual on trajective, são termos e conceitos que vão da música visual ao cinema experimental, dos happenings ao live cinema, da cultura VJ ao cinema expandido. Todas essas práticas possuem em comum o questionamento ao dispositivo, às teorias canônicas, aos gêneros estabelecidos e o uso do tempo mais como entidade filosófica que cronológica. Para refletir sobre o on trajective de Virilio, analisamos o trabalho autoral Clássicos de Calçada, em parceria com o artista sonoro DeCo N., que está em atividade desde 2013. Influenciados pela exploração poética do erro, pela cultura eletrônica, pelos happenings e live cinema, o projeto busca integrar sons e a imagens em tempo real, partindo de experiências cotidianas pessoais. Passando por diversos formatos, uso de dispositivos e diferentes espaços de apresentação, é possível verificar alguns métodos criativos, rupturas e aproximações teóricas durante esses anos. A partir das pesquisas sobre a prática do tempo real, consideramos como parte fundamental no processo de concepção da obra os conceitos de códigos, meios e ritmo. Baseados na quantidade de informações produzidas e processadas durante a ação, sentiu-se a necessidade de estabelecer uma série de normas para romper com o caos dessas informações. Nesse sentido, a ideia proposta por Deleuze e Guatarri abordada por Obici, em texto sobre território sonoro e mídias, merece ser compartilhada: “o caos está composto por infinitos componentes em curso que, atuando numa velocidade incomensurável, armazenam o esgotamento dos meios” (Obici, 2008; 64), Desta maneira, tendo em conta a grande quantidade de dados em tempo real que se gera e processa em cada apresentação, foi criada uma normativa de codificação dos componentes que definem a obra, partindo do meio físico ao meio telemático, retornando ao meio físico através das performances. Este ciclo seria a constituição da própria obra, num processo de transdução e transcodificação, um ir e vir de sons e imagens que se interferem, influem, relacionam, afetam, resultam. Ainda que o resultado estético da performance seja a mescla de imagens e sons, a estrutura de Clássicos de Calcada está baseada nos dados trocados e manipulados em tempo real. O work in progress é fator essencial de Clássicos de Calçada, porém existe uma pré-produção e elaboração conceitual para cada peça, mesmo que esteja passível aos imprevistos característicos dos trabalhos elaborado para ações em tempo real. Sendo assim, o uso do termo Audiovisual on trajective contribui para a compreensão do processo tanto criativo como teórico, podendo ser aplicado a demais projetos dessa natureza. |
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Bibliografia | MELLO, Christine. Extremidades do vídeo. São Paulo, Editora Senac, 2008. |