ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Passagem para a cidade |
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Autor | Maria Filomena Gregori |
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Resumo Expandido | Análise do filme sugere problematização produtiva questões postas pelos estudos de gênero para a análise de uma versão potente dos prazeres femininos. Essa ideia é vigorosa para pensar a rentabilidade das transgressões no marco do erotismo: não se trata apenas de postular que o sujeito não é composto por fronteiras estáveis – e nessa medida, relacional –, mas de pensar o movimento dinâmico entre normas, escolhas e mudanças. O propósito não reside em contestar a evidência das normas ou ainda de tornar obsoleta uma noção como autonomia. Significa apenas não aceitar as normas como destino inescapável, como uma natureza, e autonomia como autodeterminação. Pensar sobre gênero e sexualidade – a partir de experiências e referências eróticas – torna inescapável tratar das normas, âmbito que nos constitui sem que possamos inteiramente escolher, mas que paradoxalmente nos fornece o recurso e o repertório para as escolhas que temos e fazemos. Além disso, ao lidar com a sexualidade nas suas expressões eróticas, estamos diante de experiências que mobilizam fantasias e fantasmas: situações, referências, imagens, fragmentos de memória e sensações que, mesmo sendo gestados em torno e no campo das normas, apontam para além delas. As fantasias não são o oposto da realidade e suas dinâmicas e expressões constituem uma realidade própria. Elas nos interessam porque, segundo Butler, nos colocam diante dos limites da realidade ou daquilo que implica o seu “exterior constitutivo”. Ou as fantasias são elementos constitutivos da realidade – em chave relacional indicam anseios de alteridade? Assim, as fantasias e os fetiches, tal qual estão tão veementemente presentes em cenas de “A dama do lotação”, são relevantes para a reflexão porque expõem a contingência das normas. Esse esforço é relevante para pensar, de um lado, a realidade, ou, em outros termos, para indagar sobre a relatividade das normas que são definidas socialmente como constituindo o real; de outro lado, a contingência abre para uma investigação sobre as mudanças, até mesmo para a superação de certas desigualdades implicadas em marcadores de diferença, como gênero e sexualidade. Esses marcadores, antes de poderem ser considerados estáveis ou definitivos, podem ser tomados como termos abertos à imaginação e à contestação. |
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Bibliografia | Barthes, R. Sade, Fourier, Loiola (Lisboa: Edições 70, 1979) |