ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | De catálogo a canal: os 10 anos de Netflix no Brasil |
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Autor | Pedro Peixoto Curi |
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Resumo Expandido | As últimas décadas têm sido desafiadoras para as redes de televisão. Se a TV a cabo segmentou o mercado e ofereceu mais opções ao espectador, além de meios de programar ele mesmo sua experiência televisiva, a internet causou um impacto ainda maior e mudou em parte o que entendíamos do meio. Uma das responsáveis por grandes transformações tanto nos hábitos de consumo, quanto na produção de conteúdo a partir de um novo modelo de negócios é a Netflix. Criada em 1997 como um serviço de locação de filmes que enviava o DVD para a casa das pessoas, para que pudessem assistir aos conteúdos quantas vezes quisessem, a Netflix decidiu, em 2007, mudar sua estrutura completamente. Os assinantes, que antes pagavam uma mensalidade para receber os DVDs, agora teriam o conteúdo disponível pela internet e poderiam assistir em streaming, sem necessidade de esperar download ou ocupar espaço no computador. Em 2010, três anos depois da inclusão do serviço, os assinantes usavam mais a plataforma digital do que as entregas de DVDs. Em 2011, a Netflix deu uma nova guinada: decidiu investir em conteúdo original, encomendando sua primeira série - o drama político House of Cards, que estreou em 2013 já com a temporada completa disponível para ser assistida - e deu início às operações no Brasil. Dez anos depois de chegar ao país, o número de assinantes da Netflix passa de 17 milhões, frente aos 15,2 milhões declarados pela Anatel para a TV paga, de acordo com um relatório da Bernstein Research. Investir em mercados que vão além dos Estados Unidos e do Canadá, assim como em conteúdos de línguas não inglesas tem sido uma estratégia da Netflix e não é à toa. No fim de 2019, o número de assinantes do canal por streaming na Ásia e na América Latina teve um forte aumento, o Brasil passou a ocupar o terceiro lugar entre os maiores países em termos de receita e o segundo em assinantes e o mercado composto por Europa, Oriente Médio e África, responsável por 25% da receita total em 2018, passou a garantir 32% na metade de 2020. Além do investimento em produções locais, a Netflix investe muito em comunicação e relacionamento local. Quando grandes lançamentos globais chegam ao Brasil, por exemplo, o canal prepara conteúdo exclusivo para os espectadores do país, como aconteceu com a Xuxa e Stranger Things, Valesca Popozuda, Inês Brasil e Narcisa Tamborindeguy em três temporadas diferentes de Orange Is The New Black, um vídeo da Sandy para conter o download ilegal da segunda temporada de La Casa de Papel e muitas outras estratégias online baseadas na relação com os fãs brasileiros, que já encaram a Netflix mais como canal por streaming do que como repositório de conteúdo. Jonathan Gray, defende a ideia de que filmes e programas de televisão são apenas uma pequena parte da presença massiva e estendida de textos fílmicos e televisivos nos ambientes em que vivemos e é impossível analisar esses textos ou seus impactos culturais sem levar em conta suas mais diversas proliferações (GRAY, 2010, p.2). Gray aponta para a importância de materiais periféricos que se constroem e circulam em torno de um texto midiático e têm como objetivo promovê-los e criar em torno deles um universo que estabelece relações cada vez mais fortes e longevas com seus públicos. Essas relações permitem a oferta de narrativas cruzadas que preenchem o tempo da audiência entre um lançamento ou outro e fornecem material para que mais conteúdos sejam desenvolvidos a partir das demandas criadas, além de reforçar a identidade do canal. Este trabalho propõe um panorama dos 10 anos de atividade da Netflix no Brasil, da chegada ao país como catálogo de filmes e séries licenciados à consolidação como um canal por streaming, explorando as estratégias de engajamento do público brasileiro, a produção local de originais, o desenvolvimento de uma marca sólida e a criação de um universo intertextual complexo em meio à disputa com outros serviços de vídeo sob demanda e as implicações para o mercado local. |
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Bibliografia | BARKER, C.; WIATROWSKI, M. The Age of Netflix: critical essays on streaming media, digital delivery and instant access. Jefferson: McFarland & Company, Inc, 2017 |