ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Brakhage, Kant e o "olho não-tutelado": interpelações recíprocas |
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Autor | Mateus Araujo Silva |
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Resumo Expandido | Gestada em diálogo com a filósofa Patrícia Kauark-Leite (UFMG), a comunicação propõe um exercício de interpelação recíproca entre o cinema e a filosofia, tomando o cuidado de não reduzir o fenômeno cinematográfico a um mero estudo de caso para o raciocínio filosófico, nem de reduzir a filosofia a um mero discurso legitimador da análise ou da crítica cinematográfica. Apostando na fecundidade e no poder de revelação de um diálogo não hierárquico entre estes dois universos de conhecimento, arriscaremos uma confrontação entre um dos momentos mais altos alto da tradição do cinema experimental - a obra de Stan Brakhage (1933-2003) - e uma das teorias mais influentes da percepção produzidas pela filosofia moderna - a de Immanuel Kant na Crítica da Razão Pura (1781; 2a Ed. 1787). Para tanto, nossa discussão partirá da figura do "olho não tutelado", central na poética de Stan Brakhage (desde pelo menos o finzinho da década de 1950), embora aparentemente estranha à teoria da percepção presente na Crítica da Razão Pura. Mais especificamente, voltaremos ao prólogo de Dog Star Man (1961) e ao manifesto "Metáforas da Visão" (1963) do cineasta, para reexaminarmos sua aposta em um conhecimento não-conceitual do mundo e confrontá-la com a posição kantiana, tal como disputada no debate contemporâneo pelos seus intérpretes conceitualistas e não conceitualistas. Se, por um lado, a situação de uma apreensão não conceitual dos fenômenos do mundo físico (que está no horizonte das pesquisas estéticas do cineasta) parece respaldada por uma leitura ou por um desdobramento não conceitualista da teoria kantiana da percepção, por outro, a postulação de matriz romântica do cineasta de que esta apreensão forneceria uma forma de conhecimento mais genuína e completa (e não menos) do nosso campo de experiências parece desafiar inapelavelmente os pressupostos do filósofo. Nos limites da brevidade permitida pelas discussões da Socine, pretendemos explorar este universo de questões à luz, de um lado, da aventura perceptiva empreendida pelo cineasta no filme que elegemos (que não é nem de longe o único desta sua pesquisa, mas que nos parece condensá-la a contento) e no célebre manifesto que lhe é praticamente contemporâneo, e, de outro, das teorias kantianas da sensibilidade e da imaginação desenvolvidas na Crítica da Razão Pura, secundadas por alguns outros textos do filósofo (como a Antropolgia de um ponto de vista pragmático, de 1797) e retomadas por intérpretes contemporâneos - ou por filósofos contemporâneos que se inscrevem na sua linhagem ao discutirem a percepção. |
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Bibliografia | ALMEIDA, Guido de. “Kant and the cognitive function of imagination”. In: Patricia Kauark-Leite et al. (Ed.). Kant and the metaphors of reason. Hildesheim: Georg Olms, 2015, p. 11-26. |