ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Diálogos trágicos em Dias de Nietzsche em Turim (2001) |
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Autor | Thaís Teixeira Folgosi |
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Resumo Expandido | Em Dias de Nietzsche em Turim (2001), para compor a última passagem do filósofo pela cidade italiana entre fim de setembro de 1888 e início janeiro de 1889, Júlio Bressane insere no longa-metragem dois diálogos extraídos de Édipo Rei (1967), de Pier Paolo Pasolini, e outro de Otelo (1952), de Orson Welles. Apenas os escutamos, pois não assistimos aos planos aos quais correspondiam originariamente. Esses diálogos são deslocados de seu contexto original e passam por uma recombinação, agora, com as imagens do filme de Bressane. Destarte, a comunicação busca, em primeiro lugar, examinar este diálogo cinematográfico que se estabelece a partir do som: tal prática de apropriação de sons provenientes de outros filmes – chamados de “fonogramas” pelo cineasta – faz com que Dias de Nietzsche em Turim (2001) se reporte ao próprio cinema, pois as escolhas dos diálogos referentes às obras de Pasolini e de Welles se apoiam também na compreensão de Bressane, nesta ordem, do som artificial (feito em estúdio) e da voz. Ademais, esse procedimento, que também surge em outros filmes do realizador, aparece como um recurso estilístico que encara a história do cinema não apenas como um acervo de arquivos imagéticos, mas também sonoros. Também guiada pelo entendimento de Bressane das potencialidades do som no cinema – “inaugurar o ver com o ouvir e o ouvir com o ver”, citando o padre sermonista Antônio Vieira –, examina-se cada um dos três momentos em que se deu a inserção de um fonograma: na sequência em que Nietzsche (Fernando Eiras) se encontra na livraria-biblioteca; o filósofo a conversar com a senhora Fino (Tina Novelli), mulher do dono da pensão onde se hospedara, na presença da filha, a senhorita Fino (Mariana Ximenes); e por fim, na sequência da dissolução do sujeito. Desse modo, indagamo-nos, primeiro, à nível diegético, acerca das relações que se estabelecem entre a banda imagem e a banda sonora e o que tais diálogos manifestam em relação à narrativa, isto é, à passagem do filósofo por Turim. Já em uma perspectiva extra-diegética, leva-se em conta que o filme de Pasolini e o de Welles reportam-se, por sua vez e a seu modo, à tragédia: respectivamente, a tragédia edipiana de Sófocles e a do mouro de Veneza, de William Shakespeare. Também, partindo do fato de que Nietzsche foi um grande pensador da tragédia grega e que apreciava ambos os autores, conjectura-se a respeito desses diálogos comporem a tessitura fílmica enquanto elementos que configurariam a própria tragédia nietzscheana vivida em Turim, isto é, a dissolução do sujeito Nietzsche. Portanto, discute-se se a presença sonora desses diálogos, contaminando de ares trágicos as sequências em que os ouvimos, não se afiguraria como prenúncio daquilo que se avizinha ao filósofo, à maneira do oráculo em Édipo Rei. |
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Bibliografia | BRESSANE, Júlio. Alguns. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1996. |