ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | (In) Fidelidade em adaptações fílmicas de Grande sertão: veredas |
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Autor | Fábio Ricardo Gioppo |
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Resumo Expandido | Realizamos uma reflexão, baseada nos textos teóricos Adaptation and Appropriation de Julia Sanders (2007), Novel to Film: An Introduction to the Theory of Adaptation de Brian McFarlane (1996) e Uma teoria da adaptação de Linda Hutcheon (2011) a fim de entender como se dá a questão da fidelidade na adaptação de duas cenas do romance Grande sertão: veredas (1956) de João Guimarães Rosa, para a adaptação homônima na minissérie televisiva da Rede Globo, exibida no ano de 1985, como também na adaptação fílmica, também chamada “Grande sertão: veredas, dirigida, em 1965, pelos irmãos Geraldo e Renato Santos Pereira. À luz do que dizem os teóricos, analisamos duas cenas do romance original e comparamos com as adaptações feitas para a minissérie e para o filme. O objetivo principal deste texto consiste em refletir, com base teórica, no processo de adaptação fílmica que se deu em cenas específicas em duas adaptações realizadas a partir da obra “Grande sertão: veredas” de João Guimarães Rosa. Julia Sanders afirma que “as adaptações mais criativas são aquelas que colocam em questão o critério de fidelidade” (SANDERS, p. 20). A autora propõe também que ao analisarmos as adaptações produzidas, devemos valorizar mais o processo de criação, a metodologia usada, a criatividade de quem adapta, pois, segundo ela, precisamos compreender que todo texto evoca outros textos que não param de expandir. Sabemos que se nosso juízo de valor estiver repousado apenas no fato de querermos que a mídia adaptada seja “fiel” ao original, nossa avaliação será pobre. Linda Hutcheon, convergindo com o pensamento de Sanders, afirma que: Lidar com adaptações como adaptações é tratá-las como trabalho inerentemente palimpsésticos, constantemente assombrados pelos textos adaptados. Quando nós denominamos uma obra de adaptação, nós estamos nos referindo explicitamente ao seu relacionamento (evidente) com outras obras. (HUTCHEON, p. 27) Hutcheon nos faz pensar que as adaptações carregam em si mesmas traços claros das obras adaptadas, ou seja, dos textos-fontes de onde partiu a ideia de adaptar uma obra para uma outra mídia. A presença do texto original estará ali na adaptação feita, no entanto a mão de quem adapta estará deixando marcas para a continuação palimpséstica do texto-fonte. E é a partir dessas marcas que Brian McFarlane (1996) nos convida a refletir sobre o fato de que: [...] há uma distinção a ser feita entre o que pode ser transferido de um meio narrativo a outro e o que necessariamente requer propriamente a adaptação. A “transferência” refere-se aos elementos narrativos do romance que são mais facilmente, e de forma mais semelhante, transpostos ao filme, enquanto “adaptação” diz respeito aos elementos narrativos do hipotexto, ou texto-fonte, para os quais se mostra mais difícil encontrar equivalentes fílmicos, quando eles são encontrados. (McFARLANE, 1996, p.13) Para o autor há uma diferença na transposição narrativa de uma mídia para o filme, e para isso ele usa dois termos distintos: transferência e adaptação. Por transferência, entende-se um aspecto de construção adaptativa mais superficial, mais prático, que é realizado de maneira objetiva, ou seja, não há como fazer diferente do texto-fonte, pois serve de arcabouço para a obra a ser adaptada. Como adaptação, o autor afirma ser um processo mais difícil de se realizar, pois não há uma “capacidade” fílmica para a realização desse processo, diferentemente da transferência, daí a adaptação. Porém, quando essa questão vai além, e o diretor da adaptação cria em cima do texto original algo que não representa com veracidade e fidedignidade o que o autor do texto-fonte escreveu, como isso se resolve? |
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Bibliografia | AVANCINI, Valter. Grande sertão: veredas. Produção de Luiz Carlos Laborda, Direção de Valter Avancini e Silvio Francisco. São Paulo. Globo Marcas, Som Livre, 1985. DVD (4 discos), duração de 14h04. Áudio em dolby digital estéreo |