ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Leitura documentarizante no SciFi - testando um tensionamento |
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Autor | Raquel Valadares de Campos |
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Resumo Expandido | Além do Azul Selvagem (The Wild Blue Yonder) é um longa-metragem roteirizado e dirigido por Werner Herzog e classificado como uma ficção. O filme é ancorado no testemunho de um personagem extraterrestre, que relata os equívocos cometidos por seu povo, ao empreender uma viagem espacial com o objetivo de colonizar outro planeta, em virtude do esgotamento de recursos energéticos no planeta de origem. Utilizando-se materiais de arquivo de viagens espaciais reais e entrevistas com cientistas, o filme permite ao espectador furar o véu da ficção, realizando uma leitura documentarizante (ODIN) ou com a consciência documentária (SOBCHACK), e tomar o relato ficcional como um testemunho possível, de uma realidade futura nossa. Ainda que não seja consensual nos estudos de cinema de que seja possível definir o que é um documentário com base em características textuais dos filmes, é predominante a leitura de que filmes documentários estejam convencionalmente ancorados no discurso factográfico, apresentando relatos de o que efetivamente aconteceu, diferentemente daquilo possível de acontecer, convencionalmente relacionado à ficção. Distinção essa compartilhada tanto por quem produz quanto por quem recebe o filme documentário. A partir de meados do século XX, com a crise das representações, desmontou-se os sistemas explicativos totalizantes e se alargou a noção de verdade. Segundo Seligmann-Silva (2013), a arte a partir do Romantismo, passou a usar o conceito-chave a dissimulação (Verstellung) para borrar as fronteiras entre verdade e mentira, entre o real e o imaginário e a ter tanto direito quanto a historiografia de arquivar os fatos. Autores como Roger Odin (1992 e 2012) e Vivian Sobchack (1999 e 2000), segundo uma abordagem fenomenológica do cinema, refutam a distinção entre ficção e não-ficção baseada em aspectos representacionais e formais intrínsecos ao texto fílmico e compreendem o documentário enquanto um modo de leitura do espectador. Esta proposta visa evidenciar as instruções de leitura documentarizante no filme de Herzog e propor questões metodológicas para se analisar filmes híbridos, abrindo a possibilidade de se cogitar a produção factográfica a partir de ficções científicas – uma hipótese ainda em construção para projeto de doutorado. |
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Bibliografia | NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. Campinas: Coleção Campo Imagético, Papirus, 2005. |