ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | DIASPORÁTICAS - Desenvolvimento de uma experiência imersiva |
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Autor | Lyara Luisa de Oliveira Alvarenga |
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Resumo Expandido | Em um ambiente cênico neutro, 4 mulheres negras e uma branca expressam suas emoções a respeito da traumática experiência de deslocamento forçado de seus países de origem até o Brasil. A proposta é realizar uma abordagem sensorial, criando uma situação de dramatização imersiva com cinco personagens femininas, que realizam um jogo cênico, movimentando-se e interagindo com a câmera, expressando suas emoções com base em algumas temáticas: violência, frustração, deslocamento, adaptação e sobrevivência. A situação é livremente inspirada na proposta teatral da peça Huis clos (Entre Quatro Paredes, na tradução brasileira), de Jean-Paul Sartre de 1945. Nessa peça, de caráter existencialista, três personagens encontram-se presos em um ambiente indistinto. A situação de clausura impõe uma convivência forçada, uma existência delineada através das relações entre os personagens. As personagens femininas representam situações de um deslocamento forçado. A condição delas se contrapõe a proposta de deslocamento voluntário experimentado pelos usuários de tecnologias de audiovisual imersivo. Na experiência proposta, o usuário será deslocado para um ambiente onde encontra as personagens que estão ali porque foram forçadamente deslocadas, tanto em suas experiências de vida, quanto em sua existência como personagens. O título DIASPORÁTICAS é um neologismo, uma invenção livre de palavra – tão comum em nossa cultura – resultado da junção dos termos: DIÁSPORA + ERRÁTICA Diáspora no sentido de experiência imigratória forçada de homens e mulheres que são obrigados a deixar sua terra natal e seguir para outras regiões do mundo. Situação geralmente marcada pela violência e pelo choque, mas também pelo encontro e pelas trocas de diversas sociedades e culturas. Errática no sentido de imprevisível, irregular, aquilo que erra, que tem uma circulação aleatória. Ambas palavras femininas que, juntas, torna-se um outro termo: DIASPORÁTICAS As DIASPORÁTICAS de nossa criação são mulheres que foram obrigadas a deixar seus ambientes de origem, seus lares, seus povos, suas referências de comunidade e erraram pela vida até encontrarem, ou não, acolhimento. As personagens são: uma africana escravizada (séc. XVII); uma africana livre (séc. XIX); uma portuguesa nascida em Angola (séc. XX, década de 70); uma imigrante (séc. XXI, primeira década); uma imigrante africana mulher trans (séc. XXI, segunda década). Ao portar os óculos e fones de ouvido de realidade virtual, o usuário é colocado no centro dessa situação através do ponto de vista da câmera e pode explorar o ambiente com 360 graus de visibilidade. O jogo cênico começa a partir do momento em que as personagens percebem a presença do interator e passam a se direcionar a ele/a para expressar suas emoções. A situação toda é bastante dinâmica orquestrada em um mise-en-scène de jogo dramático. Pretendemos com essa proposta promover uma imersão sensorial para provocar uma reação de empatia crítica com as colocações de vivências das personagens. A reflexão mais importante referente a DIASPORÁTICAS está na relação cunhada a partir da intenção de aproximar questionamento tecnológico, conceitual e estético do audiovisual imersivo e a proposição poética da obra. A questão que se coloca sobre a composição da imagem no vídeo 360 - uma imagem não limitada pelo quadro - está conectada à intenção poética da obra de tratar dos contrastes entre aprisionamento e liberdade, delimitação e fluidez, entre o confinamento e o livre ir e vir. O questionamento estende-se à ideia de deslocamento diretamente relacionada à proposta tecnológica do vídeo 360, que desloca sensorialmente o usuário de um espaço de significação material a outro de significação imaterial, deslocamento esse feito de modo voluntário. Isso se coloca como um contraponto representativo em relação ao deslocamento forçado enfrentado pelas personagens tanto em suas histórias de diáspora quanto em sua condição de seres ficcionalmente deslocadas para o ambiente da obra. |
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Bibliografia | CRARY, Jonathan. Técnicas do Observador - Visão e Modernidade No Século XIX. Contraponto, Rio de Janeiro, 2012. |