ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Mostra Clássicos & Raros: um modelo para salvaguarda e valorização? |
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Autor | Vivian Malusá |
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Resumo Expandido | Esta apresentação analisa a mostra Clássicos & Raros do Nosso Cinema (2007/2010/2013/2016), produzida pela Cinemateca Brasileira, com patrocínio do Banco do Brasil. O trabalho se aprofunda em sua segunda edição, ocorrida entre abril e maio de 2010, na Cinemateca Brasileira e nos CCBBs (Centro Cultural do Banco do Brasil) de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, com recursos do Banco do Brasil através de seu programa anual de patrocínio, via edital. Como o título diz, em sua concepção, a mostra tinha como objetivo exibir clássicos e/ou raros da filmografia brasileira. Os clássicos brasileiros, já (re)conhecidos, retornariam às telas, em película, em um momento em que o acesso a eles ainda não era tão facilitado quanto se tornou depois do advento maciço do digital e das digitalizações. Já os raros, muitos deles esquecidos, malditos, ou “deixados para trás” por não serem aceitos como obras culturais na época em que começou-se a atuar na salvaguarda do patrimônio cinematográfico brasileiro, poderiam enfim ter seus materiais fílmicos reavaliados, na esperança de permitir seu retorno às telas. O retorno às telas, neste caso, tinha uma noção bastante diferente. Exibir O Pagador de Promessas (Anselmo Duarte, 1962) laureado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes do mesmo ano, era muito mais simples que exibir o filme GREGÓRIO 38 (Alex Prado, 1969) produzido na Boca do Lixo. Se aquele tinha, talvez, cópias talvez um pouco gastas com a exibição ao longo dos anos, este não tinha cópia ou internegativo, talvez tivesse apenas o negativo em mal estado, resgatado pela Cinemateca Brasileira em algum momento, mas nunca efetivamente salvaguardado. Para títulos como esse, seria necessário, por exemplo, fazer um novo interpositivo a partir do negativo original já muito deteriorado. Para isso, seria necessária a utilização de maquinas que processem filme com grande encolhimento, ou talvez a copiagem em processo e janela molhada, que diminuiria os riscos e defeitos na emulsão. Com uma abordagem simples, porém pioneira no Brasil à época, a mostra concebida pretendia dar a conhecer o trabalho de preservação e recuperação analógica dos filmes. Fazer o público, ao verem os filmes, entenderem como esses filmes puderam estar ali na tela. Profissionais da área da preservação audiovisual entendem que a missão de uma cinemateca seria de adquirir (enriquecer a coleção), preservar (compreendidos os processos de catalogação, conservação e restauração) e dar acesso a suas coleções. Assim, o evento em questão reunia todas as atividades relativas ao que se entende como responsabilidades de uma cinemateca, dando publicidade ao próprio campo da preservação audiovisual. Atualmente, é bastante comum ver o verbo “valorizar” associado ou substituindo a palavra “difundir” na questões relativas a acervo, o que amplia e atualiza esta expressão. A mostra Clássicos & Raros atuava neste diapasão, enriquecendo as obras, ainda, com encontros presenciais com profissionais que atuaram nos filmes, muitos já velhinhos, já praticamente esquecidos, mas que traziam suas histórias e reflexões muito vivas. A escolha da segunda edição para o aprofundamento se dá pelo amadurecimento de um modelo curatorial e de trabalho. Com um conjunto de curadores e o trabalho feito transversalmente pelos diversos setores da Cinemateca (como difusão, preservação e laboratório), a curadoria fazia um estudo do acervo, atentando-se, por um lado, para os filmes do acervo que eram mais solicitados para exibição, por outro, para os filmes que sofriam mais riscos de desaparecimento, pelo estado precário de suas matrizes. Ao longo dos anos em que a mostra aconteceu, foi possível acompanhar a transformação da exibição, com o processo de digitalização de sala de cinemas no Brasil e no mundo, assim como uma onda de digitalizações e restaurações que colocou a questão do cinema de patrimônio em outro patamar. Observar os caminhos traçados pela mostra Clássicos e Raros, aponta para um dos caminhos possíveis. |
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Bibliografia | CHERCHI USAI, Paolo; FRANCIS, David; HORWATH, Alexander & LOEBENSTEIN, Michael. Film Curatorship: archives museums and digital market place. Viena: Filmmuseum Synema, 2008. |