ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Cinemas indígenas e pandemia no alto Xingu |
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Autor | Thomaz Marcondes Garcia Pedro |
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Coautor | Caio de Salvi Lazaneo |
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Resumo Expandido | A pandemia de covid-19 teve um efeito especialmente devastador entre as populações indígenas do país. Uma série de medidas que buscam proteger essa população partiram tanto dos próprios indígenas quanto de parceiros e ONGs. Uma das formas de combater a doença passa pela da comunicação, sobretudo em relação ao conhecimento sobre a doença e sua propagação. Os cinemas indígenas, ou as mídias indígenas (GINSBURG, 2011), têm se tornado nos últimos 30 anos uma potente ferramenta de comunicação, experiência estética e de conhecimento entre os povos ameríndios no Brasil. Dessa forma, esse cinema foi colocado em prática para estabelecer trocas, informar e também articular noções inerentes às cosmologias indígenas em relação a pandemia. No Território Indígena do Xingu, no Mato Grosso, há uma vasta produção e circulação audiovisual. Ela é resultado de oficinas de cinema ministradas tanto pelo Vídeo Nas Aldeias desde 2002, quanto por outras iniciativas. Essa rede de mídias esteve bastante ativa durante a pandemia. Assim, a presente comunicação busca olhar para esta produção audiovisual indígena que trata da pandemia nas aldeias, feita por interlocutores dos povos Kuikuiro e Kalapalo. Uma série de pequenos vídeos, com características muito diferentes entre si, foram produzidos com o intuito de comunicar, tanto para dentro das aldeias quanto para fora, algumas questões relacionadas à pandemia da covid-19. No universo do povo kuikuro, Takumã Kuikuro, reconhecido cineasta indígena, produziu quatro mini-documentários falando sobre a forma como seu povo estava lidando com a pandemia. Os vídeos registram conversas feitas no centro da aldeia com diferentes lideranças da comunidade a respeito do coronavírus, trata das medidas que os Kuikuro tomaram para se proteger e aponta para algumas das concepções próprias e cosmológicas em relação a essa doença. Dois dos vídeos foram encomendados e pagos, um para o Instituto Moreira Salles e outro para a National Geographic. No contexto do povo kalapalo, o Coletivo Audiovisual Kalapalo também criou dois vídeos que tratam do covid-19. Alay e Orlando Kalapalo produziram uma música e um videoclipe que faz uma comparação da pandemia de covid-19 com a pandemia de sarampo de 1960, que também matou muitos indígenas e ainda segue viva na memória de muitos dos mais velhos que vivem na aldeia. Além disso, Hehu Kalapalo também produziu uma pequena peça de etnoficção, com um caráter jocoso, tratando da chegada do coronavírus à aldeia. A partir de estudos etnográficos sobre a região (FRANCHETTO, 2001; FAUTSO, 2011) e de pesquisas de campo que um dos autores realiza desde 2015, buscaremos pensar tanto nas produções em si, quanto nas formas e contextos em que foram produzidas. Como elas representam e apresentam uma concepção própria destes povos indígenas em relação à doença? Qual o papel destas mídias indígenas para estas sociedades no contexto da pandemia? Se a ruptura que a pandemia trouxe para a sociedade como um todo é algo, em parte, muito inédito, as populações indígenas já experimentaram, de diferentes formas, a finitude dos seus mundos, ou a queda do céu como propõe Davi Kopenawa (ALBERT, KOPENAWA; 2015) a propósito do contato com o mundo não indígena. Além disso, grupos indígenas viveram recentemente outras pandemias tão mortíferas quanto esta (VILAÇA, 2020). Neste sentido acreditamos que buscar compreender perspectivas de dois povos indígenas em relação ao covid-19 por meio da produção audiovisual, além da relevância significativa na compreensão da relação de populações fragilizadas com contextos pandêmicos, aponte também para formas alternativas de se lidar com essa questão. |
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Bibliografia | ALBERT, Bruce e KOPENAWA, Davi. A Queda do Céu. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. |