ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Nostalgia e Ruínas: a UNB em 3 filmes nacionais. |
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Autor | Pablo Rossi Barreira |
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Resumo Expandido | O Brasil não foi formado como consequência de suas relações e dinâmicas internas e sim organizado como sistema escravista monocultor, para cumprir determinação econômica externa. Essa ontologia colonial, apesar de essencialmente capitalista, se opõe ao fortalecimento de mercado interno em nosso país. Já no posterior processo de integração econômica na modernidade industrial, a colonialidade redundou em uma situação definida como Subdesenvolvimento. A intelectualidade modernizante nacional, capaz de desvelar tais incongruências estruturais, experimenta como em sua constituição essa profunda ambiguidade, onde sua expressão está viabilizada na própria restrição da sociedade fundada no extermínio da classe de mão de obra e na imobilidade social. O não enfrentamento dessa limitação intrínseca, condição da divisão internacional do trabalho, e a consequente negação da transformação como projeto de nação, tem gerado ciclos trágicos e contínuos, no sentido de terem uma modernização de resultados previsíveis, sem inclusão ou reparação real. O desenvolvimento é em grande medida incompatível com o modelo de economia importadora/exportadora e com o trabalho precarizado extremo, sem fortalecimento de mercado interno. No Brasil, a intelectualidade, constituída por uma classe média com acesso privilegiado ao Estado, performa narrativas de agenciamento modernizante que, quando avançadas, tensionam os dilemas das suas condições de produção atomizadas e, fatalmente, ao não se concluírem e desmoronarem, restauram as os ideais que lhe dão legitimidade, o horizonte de transformação e inclusão, assim como restauram a legitimidade de sua classe produtora e dos princípios modernos parciais do Estado que lhe sustenta. Os enunciados progressistas, ao se conservarem nessas circunstâncias irrealizáveis e portanto utópicas, geram uma dinâmica que dilui os aspectos de sua crônica suspensa e inconclusa, fornecendo, como experiência, o sentimento de nostalgia. A Universidade de Brasília é um dos maiores marcos simbólicos das intensões de modernização democrática brasileira, experimentadas na década de 1950 e 60. A UnB, mesmo enquanto ainda apenas se estruturava, reuniu com grande entusiasmo e provavelmente boa dose de euforia, um grupo de intelectuais, dirigentes e jovens em torno da área norte do Plano Piloto, ansiosos por construir novas bases para o Brasil, com uma universidade autônoma e a serviço do desenvolvimento nacional. Tal projeto de construção, de um país novo, passava por uma nova capital, uma nova arquitetura, além é claro da nova universidade. A soma desses fatores operou um tipo de tábula rasa em que o país poderia se pensar como uma página em branco, dissolvendo as noções de passado, presente e futuro, como uma nova colonização, agora humanista e no planalto central. Brasília, contradição de uma cidade nova, filme de Joaquim Pedro de Andrade de 1967, Barra 68, sem perder a ternura, de Vladimir Carvalho, lançado em 2001, e UnB, Utopia Distopia, de Jorge Bodanzky, 2020, registram em sua diacronia uma gradual romantização a medida que os filmes se afastam temporalmente dos eventos que relatam, o Golpe de 1964 e seus desdobramentos mais imediatos sentidos ne UnB. Brasília, reconhecida como patrimônio mundial em 1987, menos de 30 anos depois de inaugurada, foi a primeira obra do século XX a ganhar tal distinção, normalmente conferida a conjuntos urbanos mais antigos. Registra a crença ingênua no progresso e na humanidade na qual a UnB se alinhou antes de ser invadida por militares armados, por diversas vezes. Ruína de si mesma, a capital modernista é testemunho de proporções geográficas de um futuro coletivo quase idílico imaginado, que desmoronou por um presente liberal e conservador possível. Sua herança, na ausência de uma modernização efetiva, ocupa o lugar de uma possibilidade de modernização, que pula etapas, que tangencia suas próprias contradições e que permite sonhar, se não com um futuro mais ideal, com um presente menos real. |
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Bibliografia | FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 34º Edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2007 |