ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | As Reflexividades do documentário Interior. Leather Bar. |
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Autor | Esmejoano Lincol da Silva de França |
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Resumo Expandido | Jacques Aumont e Michel Marie (2018) trazem em seu Dicionário Teórico e Crítico uma definição suscita, mas, promissora sobre o discurso metalinguístico no cinema, apregoando que a Reflexividade num texto fílmico possa ser observada a partir de duas modalidades distintas: a Reflexividade Cinematográfica, produzida de maneira autorreferente pela obra, utilizando os códigos comuns a todos os filmes; e a Reflexividade Fílmica, produzida através de um dialogismo interno ou externo do produto consigo mesmo ou com outros filmes. Nesta comunicação, propomos expandir e aplicar esses conceitos tendo como objeto de análise o documentário Interior. Leather Bar. (2013), longa-metragem dirigido por James Franco e Travis Mathews, que tenta reconstituir cenas censuradas do filme Parceiros da Noite (1980), de William Friedkin. Nosso estudo se alicerça em metodologia apresentada por Christian Metz (1980) que preconiza, através de sua Análise Fílmica Textual, que determinado Texto Fílmico é formado por pelo menos um Sistema Textual que tem por função principal organizar em um “todo” os Códigos Fílmicos e Cinematográficos que compõem determinada obra. Primeiro, falemos suscintamente de nosso objeto de análise. O filme de Friedkin no qual o documentário de Franco e Matthews se baseia narra uma caçada policial a um assassino em série que vitimava homossexuais durante encontros amorosos; este longa foi podado pelos órgãos de Censura norte-americanos antes de sua estreia nos cinemas em 1980, perdendo cerca de 30 minutos de cenas de sexo simulado e explícito de sua duração original. (CLAGETT, 1990). Mais de 20 anos depois, Franco e Matthews decidiram recriar as sequências cortadas e produzir um documentário sobre as filmagens das cenas reconstituídas, com o intuito de revelar não apenas os bastidores do processo criativo, como também de discuti-lo, traçando paralelos com as carreiras dos profissionais envolvidos no projeto e com a história do cinema nos EUA. Agora, deixemos mais clara a abordagem que sugerimos nesta comunicação. Inferimos que o filme analisado se utilize da Reflexividade Cinematográfica ao revelar o constructo que se encontra omitido do público em muitos outros filmes, principalmente através da exposição dos Códigos que perfazem seu Sistema Textual principal – representados pela equipe e pelo maquinário utilizados na produção desse longa-metragem. Em várias sequências, uma câmera “flagra” outros equipamentos de filmagem que realizam tomadas diferentes da mesma cena, por exemplo. Por outro lado, vemos Interior. Leather Bar. desdobrar seu Sistema Textual em dois: um Primeiro Sistema Textual, composto pelo projeto do filme em si; e um Segundo Sistema Textual, compreendido pelo processo de reconstituição das cenas do longa-metragem ficcional de William Friedkin, Parceiros da Noite, bem como o escrutínio sobre as intenções do projeto e sobre a maneira como ele vem sendo conduzido durante a projeção. Neste emaranhado autoanalítico repousa a Reflexividade Fílmica e destacamos como exemplos as cenas que remontam às boates que o personagem do ator Al Pacino frequenta no primeiro filme e as sequências em que o elenco se reúne para discutir as intenções dos diretores Franco e Matthews. Concluímos que seja possível enquadrar cenas distintas em cada uma das modalidades reflexivas propostas por Aumont e Marie, mas, ressalvamos que os processos autorreferentes de Interior. Leather Bar. não podem estudados sem considerar a simbiose entre os âmbitos Cinematográfico e Fílmico de sua Reflexividade, devido à natureza metalinguística e dialógica do projeto de Franco e Matthews. |
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Bibliografia | AUMONT, Jaques; MARIE, Michel. Dicionário teórico e crítico de cinema. Campinas: Papirus Editora, 2018. |