ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Resistência cultural em documentários musicais da América Latina |
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Autor | MARCUS VINICIUS BARCELOS LIMA LOSANOFF |
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Resumo Expandido | Analisamos como os documentários musicais No Gargalo do samba (2018, Brasil) e Hasta el fín de Delfín (2018, Equador) apresentam os músicos populares Nereu Gargalo e Delfín Quishpe como representantes dos gêneros samba rock e tecno-folclore andino, respectivamente. Para tanto, estudamos comparativamente as referidas produções audiovisuais baseando-nos em três categorias: memória social, resistência cultural e integração na América Latina. A narrativa documental de No Gargalo do Samba (dirigido por Águeda Amaral) apresenta a trajetória do artista musical Nereu Gargalo, um dos fundadores do grupo de samba-rock paulistano Trio Mocotó, em 1968, O documentário busca cobrir cronologicamente o percurso histórico (pessoal e profissional) de Nereu, desde a infância pobre do sambista até a repercussão internacional; gravando álbuns de estúdio com Jorge Ben e com o Trio Mocotó, posteriormente. O documentário Hasta el fín de Delfín (dirigida por Fernando Mieles, 2018) conta a história de Delfín Quishpe, um artista de origem indígena e pobre do Equador transformado acidentalmente em celebridade instantânea após publicar um videoclipe com poucos recursos financeiros e técnicos no YouTube (Torres gemelas, 2006). O roteiro acompanha o cotidiano do artista em sua cidade natal, bem como a rotina de concertos populares, além de lançar mão de abordagem aparentemente (neo)realista em termos de estética e montagem documental - e calcada no melodrama enquanto retórica do excesso (MARTÍN-BARBERO, 2003). Em No Gargalo do samba, busca-se um enfoque calcado em depoimentos e apresentações ao vivo do protagonista para a obra audiovisual, entrecortadas por cenas teatralizadas referentes ao passado do sambista. Os depoimentos (de músicos a musicólogos), bem como do próprio Nereu, são realizados em ambientes a maior parte do tempo pré-estabelecidos ou pela produção fílmica ou negociados junto ao artista. No caso do documentário equatoriano, o roteiro parece se guiar sobretudo por meio dos passos e percalços dados pelo músico andino em sua vida social. Nesse sentido, observamos características relacionáveis ao gênero híbrido conhecido como docuficção, responsável por introduzir elementos ficcionais ou fantasiosos a fim de reforçar a representação do real de forma artística. Podemos observar nas duas obras aspectos relativos às culturalidades e hibridismos sonoros ligados ao samba e à cumbia como gêneros musicais autóctones, e também ao samba-rock e ao tecno-folclore andino como subgêneros oriundos de tais mesclas, respectivamente. (CANCLINI, 2007; HALL, 2003). Ambos os filmes apresentam perspectivas sincrético-religiosas inerentes à cotidianidade e também constitutivas da formação musical e cultural dos músicos sul-americanos. Nesse sentido, tais aspectos podem ser incluídos no horizonte cultural-ancestral de integração latino-americana da região, embora não estejam explicitados narrativamente. (GONZALEZ, 1988; RIBEIRO, 2014). Nota-se igualmente a intenção de retratar Nereu Gargalo e Delfín Quishpe como símbolos (ou atores-representantes) de resistência sociocultural, bem como sujeitos arraigados às tradições familiares, além de resilientes frente às opressões, apagamentos culturais efetuados historicamente pela indústria e pelo Estado. (FREIRE, 1987; GALEANO, 2008; KRENAK, 2018). |
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Bibliografia | CANCLINI, Néstor García. Diferentes, desiguais e desconectados. Rio de Janeiro: Editora |