ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | A restauração de "O dragão da maldade" e os desafios do Tropicolor |
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Autor | Débora Lúcia Vieira Butruce |
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Resumo Expandido | Do final dos anos 1990 até meados da primeira década de 2000, assistimos à introdução e disseminação da utilização das ferramentas digitais na área de restauração de filmes. A tecnologia digital começou sendo empregada, com raras exceções, em casos pontuais, partindo de um custo proibitivo para a grande maioria das cinematecas e arquivos audiovisuais até tornar-se mais acessível a projetos não-comerciais, tornando-se parte integrante do processo de restauro de um filme. Para Fossati (2018), o período crucial para a consolidação do digital na produção cinematográfica ocorreu entre os anos 1997 e 2007, o que teve influência no campo da preservação audiovisual. De tecnologia empregada esporadicamente e em domínios específicos a partir do início da década de 1990, como o som, o digital passou a ser utilizado regularmente a partir de 2005, sobretudo por conta da adoção definitiva da intermediação digital durante a etapa de pós-produção. Entretanto, ainda que as ferramentas digitais tenham dominado essa etapa de um filme, durante a primeira década do novo milênio a distribuição e a exibição ainda eram majoritariamente analógicas. Foi a partir da segunda década que a tecnologia digital efetivamente passou a ser utilizada em todas as etapas da produção cinematográfica: a captação, a edição e a finalização, a distribuição e a exibição, o que impactou profundamente toda a cadeia do audiovisual, sobretudo a área de preservação, devido, principalmente, à diminuição da manufatura de filme virgem aliada à descontinuidade de produção de alguns tipos de película. Foi justamente neste período de consolidação definitiva do digital que foi realizada a restauração de “O dragão da maldade contra o santo guerreiro” (Glauber Rocha, 1969). Iniciada em 2007, estava inserida em um projeto mais amplo de restauração da filmografia do cineasta capitaneado por sua filha Paloma Rocha, chamado Coleção Glauber Rocha. Patrocinado pela Petrobras por meio da Lei Rouanet, o projeto previa, além da restauração dos filmes, a difusão das obras através da exibição dos títulos em salas de cinema e o lançamento em DVD. “O dragão da maldade” foi o último dos quatro títulos a ser restaurado na primeira etapa do projeto, composta por “Barravento” (1961), “Terra em transe” (1967) e “A idade da Terra” (1980). Concluído em 2008, o processo de restauro da imagem foi realizado em 4K no Laboratório Prestech, em Londres, sob a coordenação de João Sócrates de Oliveira, e a restauração do som foi executada no Brasil no Estúdio JLS, coordenado por José Luiz Sasso. A obra seria um exemplo do uso do “Tropicolor”, um termo de invenção baiana para categorizar filmes, segundo definição do fotógrafo Affonso Beato, com alto contraste, alta densidade e alta saturação nas cores, sendo que um dos maiores problemas decorrentes da deterioração dos materiais de “O dragão da maldade” foi justamente o esmaecimento das cores. A duplicação fotoquímica realizada na década de 1980, apesar de ter sido uma estratégia essencial para a melhor conservação do filme a longo prazo, não conseguiu, por conta de limitações inerentes ao procedimento analógico, restituir completamente a já iniciada degradação das camadas de cor apresentada pelos elementos do filme, além de outros danos. Por conta disso, foram as ferramentas digitais utilizadas durante a restauração de 2007 que possibilitaram a restituição da potencialidade visual e sonora da obra. O título se configura como um caso único, porque, apesar de a restauração não ter sido integralmente realizada no Brasil, foi o primeiro filme brasileiro a passar por um processo de restauro com a tecnologia de resolução 4K. Este trabalho pretende investigar os principais desafios enfrentados ao longo desse processo de restauro, analisando em que medida se deu o restabelecimento da integridade estética da obra ao mesmo tempo em que são mantidas as características históricas do período em que foi realizada. |
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Bibliografia | BELTON, John. “Painting by The Numbers: The Digital Intermediate” em Film Quarterly, Volume 61, Number 3, 2008. University of California. |