ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Dimensões do visível em Filme Para Poeta Cego |
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Autor | Haroldo Ferreira Lima |
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Resumo Expandido | Em Filme Para Poeta Cego (Gustavo Vinagre, 2012), a cegueira do poeta Pedro José Ferreira da Silva é trabalhada como dispositivo de visibilidade que mostra um encontro de imagens da poesia e do cinema, e deixa ver as afecções entre grande poeta e jovem realizador. Ao biografar o ídolo, Vinagre toma parte das experiências que dão forma à lírica e cede espaço para que o poeta ensaie, entre memórias do visível e imagens do cinema, sobre a materialidade de sua personagem literária, o incorrigível sátiro, encarnação contemporânea de Boca do Inferno em sua única possibilidade: Glauco Mattoso. A comunicação dá continuidade à investigação sobre a ideia de amizade formulada pelo último Michel Foucault (1981) no cinema queer brasileiro. Neste momento, gostaria de aproximá-la de um de seus mais estritos sentidos por meio de procedimento quase hagiográfico. O investimento de Foucault sobre as subculturas leather e BDSM em sua temporada californiana apostam no traçado de um campo de experiência que tornaria possível algo obliterado pela civilização cristã, o cultivo de artes eróticas um pouco mais ricas em relação à performance reprodutiva, vanilla, disciplinar do sexo (Ortega: 1999), em si, a serviço do biopoder (Foucault: 2010). Entendida como tática fundamental para resistir aos poderes sobre a normalização dos corpos, é por meio dessas práticas que Foucault vislumbra a invenção de modos de vida, formas de existir e coabitar um presente sensível, à flor da pele, com os prazeres da carne. O curta parece exemplar para tal trabalho. Ao investir sobre Mattoso, Vinagre abre espaço para o poeta tecer considerações sobre as relações entre prazeres vividos e aqueles formulados em imagens poéticas, e traçar consideração sobre uma vida dedicada à arte e às artes do sexo. Isto amparado também por meio das relações afetivas e de cuidado explicitamente convocadas por Foucault quando trata das possibilidades da amizade. A partir da escuridão leitosa em que vive o poeta, o curta deixa visível a imanente relação de Mattoso e Akira, seu parceiro de vida e composição, e empurra o realizador para a participação prazerosa em cena, sob o comando dos dois e a ação de um carrasco. Entrementes, Filme Para Poeta Cego coloca em exposição a partir da memória e da poética da personagem imagens fílmicas e literárias para se pensar tanto o pacto participativo que mobiliza as performances de si (Comolli: 2006) no quadro e a prática documental, quanto um pensamento sobre o visível a partir da perda da visão: neste caso, a multiplicação de olhos sobre seu corpo, aqui tomado em extensão como fonte inesgotável de prazeres da carne e tecnologia determinante para desembaraçar o prazer e a sexualidade de suas limitações genitais. |
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Bibliografia | COMOLLI, Jean-Louis. Ver e poder. A inocência perdida: cinema, televisão, ficção, documentário. Belo Horizonte: Ed. da UFMG, 2008. |