ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Possibilidades de memórias: realização e preservação audiovisual no BR |
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Autor | Manoela Veloso Passos |
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Resumo Expandido | A forma mais estabelecida no cinema de todos os tempos é a forma de contar histórias através da narrativa clássica hollywoodiana, e isso representa um grande prejuízo para a construção de uma sociedade que respeite a diversidade de existências. O personagem protagonista, em essência um homem cis branco e hétero, é criado para ser consistente, ou seja, simplificado, fácil de compreender e descrever, características que também se aplicam a estrutura da narrativa que pode, e quer, se manter inflexível mesmo retratando as realidades mais diferentes. Ao buscar uma compreensão mais ampla dos fenômenos sociais e existenciais humanos em toda sua complexidade, encontramos experiências que não cabem nesse modelo que está tão inevitavelmente estabelecido na memória coletiva do mundo colonizado. As histórias que foram por muito tempo invisibilizadas, hoje se mostram como fonte importante de descobertas historiográficas, as criações decoloniais procuram redescobrir as histórias que ainda não foram suficientemente contadas. Um exemplo encantador dessas criações são os cinemas feitos por indígenas, através dos seus filmes eles buscam recriar espaços de convivência e trocas de saberes que foram minimizados com o contato com a colonização. Ao realizar esse filmes, os indígenas buscam construir sua auto-representação, ainda mais do que isso, expressam sua cosmologia e existência, profundamente baseada no coletivo. O espectador, para esses filmes, é livre para produzir seus entendimentos e pode ter acesso a vislumbres de experiências da vida da comunidade pela qual o filme foi realizado, pois a estética está intimidade ligada ao povo e etnia que a produz. Ainda os desafios da preservação audiovisual são extensos e diversos e, apesar de intuir-se os caminhos quelevariam ao sucesso, não é possível ainda construí-lo por falta de recursos. Esta falta de recursos está constante e inevitavelmente relacionada com as posturas neoliberais que invadem as gestões públicas, ainda que não encontrem respaldo constitucional, pois as diretrizes da constituição apresentam a cultura como um direito a ser garantido pelo Estado com ênfase à proteção do patrimônio cultural. Vale lembrar que a preservação não é o único setor do audiovisual que enfrenta dificuldades para se estabilizar em nosso país, marcado por uma grande instabilidade política que afeta constantemente as práticas relacionadas a todasasáreas da cultura, mas é um setor que afeta toda a cadeia produtiva, desde a produção ao consumo. Uma parcela considerável de filmes feitos no Brasil, especialmente se tratando de curta-metragens, assume um objetivo que não de alimentar um mercado, é perceptível nesses filmes busca por representar uma cultura complexa, muitas vezes desconhecida porque diversa; eles existem, e resistem, pois não seria apenas o interesse do livre mercado que tornaria possível a realização de cinema no Brasil, no entanto, muitos filmes brasileiros vem ocupando lugares de destaque nos festivais de cinema pelo mundo nos últimos anos, essa é uma conquista que contribui para a diversidade cultural que enfrenta hoje tantas dificuldades para se manter. Se já há enormes desafios para a preservação do cinema hegemônico no Brasil, como garantir que as políticas de preservação possibilitem o acesso a uma memória mais democrática para este país? Não há filmes indígenas da década de 80 para serem preservados, mas não podemos correr o risco de que os filmes brilhantes que são produzidos hoje não sejam acessados nos próximos tempos, pois dessa forma perderíamos a oportunidade de reconstruir parte importante da formação de nossa sociedade. É importante que isso seja seriamente considerado, priorizado, e assim ganhe espaço para evitar a perda ainda maior de vidas, identidades e diversidade. |
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Bibliografia | ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PRESERVAÇÃO AUDIOVISUAL. Plano Nacional de Preservação Audiovisual |