ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Música e estilo no cinema de Hong Sang-soo |
|
Autor | Luíza Beatriz Amorim Melo Alvim |
|
Resumo Expandido | O uso da música na cinematografia do diretor sul-coreano Hong Sang-soo se caracteriza pela parcimônia, algo presente também em grande parte do cinema contemporâneo apresentado nos mais importantes festivais internacionais, como Cannes, Veneza e Berlim (caso dos filmes de Hong). Às vezes, as poucas incursões musicais servem para finalizar “capítulos” em que o filme se divide, além de que o diretor costuma aproveitar situações diegéticas para a inclusão da música. Ambas as situações são características de outras cinematografias com parcimônia musical, como as de Robert Bresson e outros diretores do cinema moderno. Em alguns filmes de Hong, a música participa da assim chamada “estrutura paramétrica”, observada por Medeiros (2018), baseando-se no conceito de Bordwell (1985). Bordwell considera como narração paramétrica aquela caracterizada por uma estrutura de repetições e variações de planos e temas ao longo do filme, tornando evidente o estilo do diretor. Finalmente, há um uso frequente de repertório preexistente de música clássica ocidental nos filmes de Hong, aspecto a que daremos mais atenção neste trabalho, ainda que o diretor não tenha deixado de ter colaborações durante mais de um filme com compositores de música original. O uso de música preexistente é bem característico do cinema contemporâneo, como observaram Gorbman (2007) e Hubbert (2014), embora não seja algo novo. Hubbert o identifica como prática frequente do cinema antes do som sincronizado, tendo havido um novo recrudescimento nos anos 1960, relacionado ao grande desenvolvimento da indústria fonográfica. Gorbman (2006, 2007) associa o uso de música preeexistente ao cinema autoral e foi o que verificamos em pós-doutorado, com um mapeamento e análise especificamente do repertório clássico na Nouvelle Vague francesa e no Cinema Novo brasileiro. No cinema contemporâneo, Gorbman (2007) identifica uma série de diretores melômanos de diversas nacionalidades, para os quais o uso da música é parte essencial de seu estilo. Para eles, usar música preexistente é obter um controle sobre a música já na escolha do repertório, sem deixá-lo a cargo de um compositor. São obras que, muitas vezes, refletem o gosto musical do diretor, como acontece com Hong em relação à música clássica ocidental, tal qual ele evocou em entrevistas. Tal repertório aparece ao longo de todas as fases da cinematografia de Hong. No âmbito dessa comunicação, daremos destaque à associação da Sétima Sinfonia de Beethoven, obra canônica do repertório ocidental, com a ironia em Filha de ninguém (2013), além da sensibilidade operística associada ao uso de música diegética num filme mais recente do diretor, Silvestre (2018). De todas as incursões musicais da Sétima sinfonia de Beethoven em Filha de ninguém, chamam atenção as três que acontecem num parque, todas vindas do rádio do personagem Lee, com uma gravação de sintetizador que reforça os aspectos risíveis das cenas, em que Lee faz declarações amorosas à jovem Haewon ou se desespera após as brigas com ela, ocasionadas por seu ciúme. Essas três incursões estão numa estrutura paramétrica, em que vemos também o repetido encontro com um frequentador mais velho do parque e a escuta de música em observação à natureza. Já em Silvestre, a grandiloqüência de óperas de Richard Wagner, entre outras, associam-se a diálogos de casais sobre relações amorosas. Os objetivos desta comunicação são: depois de um brevíssimo panorama geral do uso da música nos 25 longas-metragens de Hong – o que corresponde a todos, com exceção do último apresentado em 2022 –, deter-se no uso do repertório clássico ocidental em Filha de ninguém (2013) e Silvestre (2018), atentando para os significados fílmicos e extrafílmicos evocados pela associação do dito repertório preexistente com os momentos do filme em que são ouvidos. No caso de Filha de ninguém, será ressaltada a estrutura paramétrica em que a música se insere e a relação dos elementos visuais e sonoros das sequências com o kitsch. |
|
Bibliografia | BORDWELL, D. Narration in the Fiction Film. University of Wisconsin Press, 1985. |