ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Por uma história dos distribuidores no Brasil: Lebre e Labanca. |
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Autor | Rafael de Luna Freire |
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Resumo Expandido | Meu livro “O negócio do filme” foi dedicado à construção de uma história da distribuição cinematográfica no Brasil entre 1907 e 1915 (FREIRE, 2022). Abordei um período geralmente tratado apenas do ponto de vista da produção local – que suscitou os conceitos (“Bela época”) e periodizações (1908-1911) mais utilizados para discutir esses anos –, propondo entendê-lo sob outro prisma. Nessa comunicação, gostaria de realizar uma investigação preliminar sobre os protagonistas desta história – os distribuidores –, sempre esquecidos pela ênfase dada, nos estudos históricos, aos diretores e, em menor medida, aos atores e técnicos envolvidos na realização de filmes no Brasil. Meu recorte cronológico aqui é mais amplo, extrapolando o limite da Primeira Guerra Mundial de meu livro e se espraiando pelo restante do período do cinema silencioso. Embora os distribuidores (de filmes estrangeiros) tenham sido geralmente tratados de forma genérica e simplista como “inimigos” do cinema brasileiro pela historiografia clássica, tendo os exibidores brasileiros como seus aliados, defendo que é por meio do estudo da trajetória desses profissionais que podemos realmente entender como se desenvolveu a história do cinema no Brasil. É importante ressaltar como a figura do distribuidor cinematográfico, especialmente nos primórdios da formação do mercado, não possuía ainda uma identidade clara e bem-definida, o que pretendemos evidenciar, e não obliterar (ALTMAN, 1996). No período entre 1907 e 1915, desde a pioneira empresa Marc Ferrez & Filhos, os distribuidores frequentemente eram também exibidores, conjugando a atividade de importação e comercialização de cópias de filmes com a propriedade de salas fixas. Desse modelo inicial de “exibidores-distribuidores”, que caracterizou os Ferrez, Serrador, Staffa e Segreto, surgiram figuras especializadas apenas na distribuição, como os “agentes” importadores de filmes (Lebre, Blum e Sestini). Posteriormente, surgem empresas que podem ser definidas como “distribuidoras independentes”, por não possuírem negócios no ramo da exibição (cf. JOHNSON, 1987; SOUZA, 2004; FREIRE, 2022). Assim, temos um processo de institucionalização da distribuição cinematográfica e de singularização do profissional que atuava nesse ramo. A chegada das filiais das distribuidoras americanas, a partir de 1915, não alterou radicalmente esse cenário, se dando por meio de empresas distribuidoras “independentes” (Universal, Fox, Paramount) e também de “agentes”, como Morris Winick, representante da Triangle. Nesse contexto, o objetivo principal da comunicação é aprofundar o conhecimento desses nomes. Partimos da discordância da descrição de Paulo Emílio Sales Gomes, que escreveu: “os homens que abordaram o cinema como negócio [nos primeiros tempos...] não pertenciam ao mundo comercial estabilizado e rotineiro, dominado por portugueses. Eram quase sempre italianos, frequentemente aventureiros, em cujas vidas pitorescas não pesava muito o lastro da respeitabilidade” (GOMES, 1996). No ramo da distribuição, encontramos profissionais de perfis distantes da descrição acima, que remete a “aventureiros” italianos como Di Maio, Segreto ou Staffa. Diferente deles, vários distribuidores eram empresários que já atuavam no ramo da importação de produtos europeus e que incorporaram os filmes em negócios já estabelecidos, tais como Marc Ferrez. Eram, sobretudo, homens brancos “respeitáveis”. Para exemplificar essas distinções, vamos tratar em mais detalhes de duas figuras pouco estudadas e bem distintas: o francês Joseph Florentin Lebre, primeiro representante da companhia francesa Gaumont no Brasil, e o italiano Guiseppe Labanca, sócio do Cinema-Palace e da pioneira empresa produtora e distribuidora Photo-Cinematographia Brasileira. Ao abordar a trajetória pessoal e profissional dessas duas figuras, pretendemos demonstrar semelhanças e diferenças no perfil dos empresários que comandaram o mercado cinematográfico brasileiro em seus primeiros tempos. |
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Bibliografia | ALTMAN, Rick. Otra forma de pensar la historia [del cine]: un modelo de crisis. Archivos de la Filmoteca, 22, fev. 1996. |