ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | PROCESSO CRIATIVO E AÇÃO POLÍTICA: MELODRAMA TROPICAL EM KARIM AÏNOUZ |
|
Autor | Aline Vaz |
|
Coautor | Sandra Fischer |
|
Resumo Expandido | A pesquisa, integrada aos estudos de cinema, composição fílmica e potência, dedica-se a identificar e analisar, no filme A vida invisível (Karim Aïnouz; Brasil, 2019), as linhas que se entrelaçam entre o cinema de autor (alinhado à dimensão da arte e/ou do experimentalismo) e o cinema de gênero (que tende a estabelecer imediata conexão com o grande público), em especial relacionando-as a características atreladas ao melodrama que se apresentam, na obra de Aïnouz, matizadas por uma peculiar apropriação pop – perfazendo, na definição do cineasta, o melodrama tropical. Tal modalidade melodramática permite que as partilhas do sensível acionem simultaneamente, nos termos de Jacques Rancière “o lugar e o que está em jogo na política como forma de experiência.” (2009, p. 16). Essa labilidade entre cinema de autor e cinema de gênero confere ao filme possibilidades de atingir diversos públicos, além de ampliar as escolhas criativas do diretor. Karim Aïnouz (2019) afirma que para contaminar o cinema por dentro, quis “apostar numa linguagem de gênero, com a qual um público mais amplo estivesse habituado. Queria apostar numa forma mais clássica, quase careta, e a partir dali falar sobre temas relevantes no mundo hoje”. Inspira-se na telenovela brasileira dos anos de 1970, nos melodramas egípcio, mexicano, americano da década de 1950, na figura do pequeno burguês da França do século 18, expressando e enfatizando suas próprias marcas autorais. No Rio de Janeiro de 1950, A vida invisível espelha um passado que teima em se dar a ver em um insistente presente em crise no ‘país tropical’. A maior parte das tensões ‘imaginadas’ são questões históricas, problemas crônicos da sociedade brasileira como o patriarcalismo exacerbado, a opressão e a reificação da mulher. Partindo dessas premissas, sistematizamos ideias expressamente manifestas pelo cineasta e enfocamos aquilo que impulsionaria o ato criativo de Karim Aïnouz ao realizar o filme A vida invisível, articulando linhas que ali se delineiam, forma tênue e borrada, entre o que seria considerado cinema de autor, compreendido à moda de Alexandre Astruc (2012) como a capacidade do cineasta expressar uma concepção de mundo com a linguagem mais vasta possível, e o cinema de gênero, alicerçado pelo processo produção-distribuição-consumo. Tomando o cinema como campo do sintoma e sistema de pensamento, consideramos que tal modo de fazer cinema pode funcionar como estratégia de resistência: imagens cinematográficas de natureza potencialmente política surtirão efeitos, em termos de crítica social, na medida em que se comuniquem amplamente com a sociedade originando experiências interacionais (aqui pensando, nos moldes de Jacques Fontanille (2014), nas categorias do ser/estar junto, agir com ou agir contra), atraindo públicos múltiplos para a sala escura do cinema e tornando-se, eventualmente, alvo de perseguições e vetor de lutas. |
|
Bibliografia | ASTRUC, Alexandre. Nascimento de uma nova vanguarda: a “camera stylo”. In: OLIVEIRA, L. M. Nouvelle vague. Lisboa: Cinemateca Portuguesa, 1999. p. 319-325. |