ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Dimensões autobiográficas na obra de Olga Futemma |
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Autor | Hanna Henck Dias Esperança |
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Resumo Expandido | O cinema brasileiro e, sobretudo, o documentário das décadas de 1970 e 1980, ficaram marcados por uma profunda preocupação com as experiências coletivas, em grande parte devido ao processo de reorganização dos movimentos sociais, em que a afirmação das diferenças aparecia como possibilidade de visibilização do outro (XAVIER, 2001). Diante desse contexto, Olga Futemma se destaca ao realizar obras nesse período que não estavam centradas em uma relação de alteridade com os objetos filmados, mas de equivalência e similitude, através de uma afirmação explícita do “eu” e do “nós” como agentes narrativos. Descendente de imigrantes okinawanos, a diretora parte da experiência da diáspora japonesa para discutir em seus filmes questões ligadas à própria identidade. Como ela mesma afirma: “Durante muito tempo, fiquei um pouco perdida entre três culturas: a okinawana, a japonesa e a brasileira” (FUTEMMA apud HOLANDA, 2020, p. 173). Assim, Futemma utiliza de elementos da autobiografia para discutir o constante processo de construção e desconstrução da sua identidade como nissei. Ainda que singulares, Futemma dirigiu apenas cinco filmes no curso de sua carreira cinematográfica, entre 1974 e 1989, todos de curta-metragem. São eles: “Sob as pedras do chão” (1974), “Trabalhadoras metalúrgicas” (codireção Renato Tapajós, 1978), “Retratos de Hideko” (1981), “Hia sá sá - hai yah!” (1985) e “Chá verde e arroz” (1989). Dentre suas realizações, apenas “Trabalhadoras metalúrgicas” não toca nas questões da imigração japonesa e dos desdobramentos identitários e culturais que emergem a partir da experiência do deslocamento. “Sob as pedras do chão”, seu primeiro filme, por exemplo, tem como temática o bairro da Liberdade em São Paulo, composto em sua maioria por imigrantes japoneses. O documentário discute como o encontro entre a cultura japonesa e a brasileira se dá nesse espaço, em que ao mesmo tempo em que a tradição oriental sobrevive no cotidiano, também se expressam adaptações comportamentais. Assim, a estreia de Futemma no cinema já propõe uma discussão acerca do deslocamento entre culturas, discussão essa que se repetirá nas suas próximas obras. A abordagem, nesse caso, é voltada para a figura coletiva do imigrante japonês e seus descendentes, em que a Liberdade se torna o lugar onde a identidade intersticial desse grupo é manifestada. Ainda que o documentário não seja explicitamente autobiográfico, ele já carrega aspectos da vivência de Futemma, tanto pela sua relação pessoal com a cultura japonesa e a brasileira, como também pelo fato do filme não se concentrar em um espaço geográfico qualquer, mas em um que está intimamente ligado à história particular da realizadora. Em entrevista mencionada anteriormente, Futemma reconta como o bairro da Liberdade foi parte central da sua infância e da sua formação cinematográfica, em que os cinemas japoneses ali localizados integravam o lazer familiar e foram responsáveis pelo seu contato com a cinematografia japonesa. Já “Chá verde e arroz”, única ficção e última realização de Futemma, narra a passagem de um cinema ambulante japonês por uma cidade do interior paulista na década de 1950, em que todo o acontecimento transcorre a partir da perspectiva de um menino chamado Jo. O contato com a cinematografia japonesa na infância e a história de seus antepassados reimaginados figuram, assim, aspectos que também pertencem à vivência particular de Futemma. Enquanto ambos os filmes também discutem a imigração japonesa através de uma perspectiva que é atravessada pelo íntimo de Futemma, é em “Retratos de Hideko” e “Hia sá sá - hai yah!” que a diretora aprofunda a temática. Neles, o “eu” e a vivência pessoal se tornam mais explícitos, abrindo caminho para a aparição de algumas dimensões autobiográficas. A proposta desta comunicação é, portanto, analisar essas possíveis dimensões presentes em “Retratos de Hideko” e “Hia sá sá – hai yah!” sem, entretanto, deixar de relacionar Futemma com o contexto de sua época. |
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Bibliografia | ADORNO, Theodor. O ensaio como forma. In: Notas de literatura I. Tradução e apresentação: Jorge de Almeida. São Paulo: Duas Cidades, 2003. |