ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | A voz no cinema militante do movimento estudantil |
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Autor | Antônio Burity Serpa |
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Resumo Expandido | A presente pesquisa tem como objetivo principal, investigar as vozes do Cinema militante estudantil, a partir do estudo de caso do longa-metragem Espero Tua Revolta (2019), da diretora Eliza Capai. Este documentário registra a luta dos estudantes secundaristas contra a precarização do ensino público, em ocupações das escolas de São Paulo entre 2015 e 2016, além de vários protestos conturbados realizados pelos alunos. Como afirmou Chion (1999), a voz foi tratada ao longo da história do cinema, como transmissor das informações da narrativa, através dos diálogos. Desta forma, ela se configurou como o elemento mais importante na hierarquia do som, desde a captação, até a pós-produção. Para ser possível que a voz cumpra com seu papel informativo, sons alheios à fala passaram a ser suprimidos, principalmente no cinema clássico Hollywoodiano, que evitava sons indesejados na captação e limpava o máximo possível os ruídos produzidos pela garganta. O autor propõe, então, que as vozes sejam analisadas por suas características materiais, que inclui, para além do verbo, os sons produzidos pela garganta, como respiração, tosse, grunhidos, estalidos e sons guturais. Refletindo sobre a teoria do documentário, percebe-se que a voz foi tratada pelos seus principais autores, a exemplo de Bernardet (2003), Nichols (2010) e Ramos (2008), mais como argumento, discurso ou ponto de vista do realizador e menos como efeito sonoro. Entende-se a argumentação como a forma em que o cineasta se utiliza da linguagem do audiovisual para construir sua visão de um mundo que ele acredita ser real. A fotografia, a montagem e o som, criam narrativas sobre o mundo ao seu redor e essa é a voz do documentário (NICHOLS, 2010). Sendo assim, a pesquisa vai alinhar essas duas perspectivas teóricas. A voz como argumentação/ponto de vista/discurso e a materialidade da voz como som. Acreditamos que esta é a interseção ideal para uma análise bem construída da voz em documentários militantes. A voz que é projetada como verbo, também é acompanhada de sons que dialogam esteticamente com o desenho sonoro da obra. Defendemos essa tese baseada na premissa que toda voz tem um corpo. Esta corpulência é atravessada por diversas alteridades e historicidades. Os personagens políticos dos documentários militantes falam de um lugar, pertencem a uma certa realidade e tem uma trajetória específica. Sendo assim, apresentamos o seguinte problema: Qual a função da voz como som e discurso em um filme militante? Uma importante relação que percebemos entre o longa escolhido e a voz, está na forma em que esse elemento precisou ser adaptado às condições perigosas e imprevisíveis de uma ocupação e de protestos violentos. A necessidade de inteligibilidade da voz nestas condições, produzidos em um acontecimento único que não volta a se repetir, geram interessantes efeitos estéticos no som a serem discutidos, perfazendo uma “estética da urgência” (LEANDRO, 2014). Pensando na captação do som, como os valores de materialidades sonoras se encaixam neste contexto? Como entrevistar alguém em uma manifestação em que bombas de gás lacrimogêneo estão sendo arremessadas? Como lidar com a transmissibilidade dos discursos e a inteligibilidade da voz quando se está em um local sem nenhuma possibilidade de controle dos ruídos externos? Essas questões estarão em investigação no decorrer da pesquisa. Por fim, a partir destas e outras reflexões, vamos analisar o longa-metragem por meio de descrições analíticas das cenas, buscando entender como e porquê as vozes estão sendo colocadas e trabalhadas sonoramente daquela forma no filme. Não pretendemos encontrar uma resposta final e engessada para esta pergunta, mas esperamos que, através deste exercício de análise, possa ser possível abrir as fronteiras do estudo das vozes de documentários políticos/militantes e, ao mesmo tempo, contribuir com o andamento das pesquisas sobre as vozes sonoras no cinema. |
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Bibliografia | BERNADET, Jean-Claude. Cineastas e imagens do povo. Juiz de fora: UFJF, 2003 |