ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | A solidão como forma narrativa em O homem das multidões |
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Autor | Guilherme Augusto Bonini |
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Resumo Expandido | Nesta comunicação propõe-se discutir o processo de transposição da escrita literária para a linguagem cinematográfica de O homem das multidões, de 2013, destacando a solidão como tema de significação na construção narrativa, pensando o modo como os diretores Cao Guimarães e Marcelo Gomes, potencializam a narratologia fílmica com o uso de recursos técnicos, propondo uma inventividade estética que dialoga com a modernidade social contemporânea e a obra clássica de Edgar Allan Poe, do século XIX. Essa investigação lida especificamente com as sequências finais do filme, observando os códigos cinematográficos empregados que salientam a subjetividade do personagem, contextualizando o tema proposto ao conflito de duplicidade e autoconhecimento. Por um lado, a obra originária revela um labirinto narrativo de inclusão à modernidade social, ao evitar a solidão numa Londres do século passado; do outro, o projeto fílmico explora o homem contemporâneo em personagens que se correlacionam e vivenciam processos em isolamento de forma obstinada, numa espécie de alteridade compacta, imersos nas multidões da grande metrópole de Belo Horizonte. Estes apontamentos sugerem questões para se pensar na construção de uma forma narrativa em seu processo criativo de tradução, a logicidade ao discurso fílmico, através das estratégias estilísticas dos cineasta como: o uso de planos fotográficos em formato de tela quadrada, as cores análogas utilizadas na imagem, os elementos sonoros que transpassam os quadros imagéticos por uma montagem em elipses e a encenação presente nas cenas que demonstram externar o que é interno nos personagens; ações que possibilitam sentidos ao espectador para além de seu conteúdo semântico. Tais reflexões em conjunto com a análise sequencial do filme, dispõem de diferentes frentes teóricas, partindo de conceitos com Baudelaire, que discorre sobre os processos de Poe e discute a modernização social na figura do “flâneur” – na intenção de observarmos o personagem e seu estado subjetivo à solidão; Cortázar que pontua o trabalho do contista e a significação ao tema – a fim de nos aprofundarmos no processo de construção da obra original e compará-la em sua transposição fílmica e Howard e Mabley para nos aprofundarmos no desenvolvimento da linguagem narrativa dos diretores na composição da mise-en-scène. Por fim, atribuímos ainda alguns pensamentos dos próprios criadores, primeiro através de Poe, em sua composição criativa de escrita, e segundo, por meio de depoimentos dos cineastas na realização do filme, para assim, engendrarmos semelhanças e demais relações entre as obras e compreender parte do processo de tradução de um cinema poético contemporâneo brasileiro, que se inicializa de uma literatura clássica americana e proporciona significados para além de sua percepção comum. |
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Bibliografia | BAUDELAIRE, C. Ensaios sobre Edgar Allan Poe. Tradução: Lúcia Santana Martins. São Paulo: Ícone, 2003. |