ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Imagens do Outro: Imigrantes e Refugiados no Documentário e na Ficção |
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Autor | José Augusto Mendes Lobato |
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Resumo Expandido | A sucessão de conflitos internacionais em países do Oriente Médio, América Latina e Eurásia consolida as primeiras décadas do século XXI como um dos mais graves períodos de crises migratórias da história contemporânea. De acordo a Agência das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), até meados de 2021, o número de refugiados ultrapassou 20,8 milhões. O dado se soma a 4,4 milhões de solicitantes ativos de refúgio e 50,9 milhões de pessoas deslocadas internamente em seus países. Este cenário tende a ser impactado em 2022 com o fluxo de mais de 5 milhões de refugiados que deixaram a Ucrânia, por conta da guerra provocada pela invasão da Rússia ao país. Recorrentes na cultura audiovisual e atrelados a essa pauta global, as narrativas de alteridade (LOBATO, 2017) de ficção e não ficção atreladas à enunciação do outro têm o papel de produzir imagens que tornem legíveis e compreensíveis seus aspectos socioculturais e expliquem os contextos de deslocamento em massa que os afetam, operando como sistemas representacionais (HALL, 2016). Em investigações anteriores, notamos que a produção de fronteiras, a demarcação do Eu/Nós e do Outro e a construção de atitudes ou posturas diante do diferente são marcas estruturais das narrativas de alteridade, seja por meio da tessitura do conflito/intriga, seja por meio da construção das personagens. Aqui, no entanto, partimos da premissa de que a compreensão da potência de tais imagens deriva de um embate entre identidade e alteridade que encontra especial relevância na instância da recepção, na leitura dos produtos audiovisuais por imigrantes e refugiados. Nosso trabalho aqui propõe a análise dos marcos estruturais de edições dos programas jornalísticos Profissão Repórter e GloboNews Especial e da telenovela “Órfãos da Terra” e sua problematização à luz de entrevistas com imigrantes e refugiados de seis países, a fim de examinar os processos de tradução cultural e produção de fronteiras. Para discutir esses tópicos, nosso referencial adota os estudos de imagem, sobretudo em Debray (1993), Kamper (2001) e Flusser (2007), para discutir a relação entre imagem e experiência e suas funções mediadoras da representação audiovisual, além de autores associados aos estudos da linguagem e da cultura – com os conceitos de representação social (Moscovici, 2003), fronteira (Lotman, 1998) e identidade, alteridade e discurso (Woodward, 2000; Hall, 2016; Bhabha, 1998). Também examinamos os processos de mediação e midiatização, a fim de compreender como a difusão em larga escala de atributos associados à alteridade mobilizam visadas e leituras preferenciais sobre suas características. Na análise das estruturas dos produtos audiovisuais, notamos, tanto no documentário jornalístico como na ficção seriada, a adoção de estratégias semelhantes de representação – com ênfase na produção de fronteiras e na atribuição de juízos valorativos aos imigrantes e refugiados. À análise desse material se somou o processo de realização de dez entrevistas com imigrantes e refugiados oriundos da Síria, de Burkina Faso, do Haiti, do Chile, da Guiné-Bissau e da Venezuela. Além de assistir a trechos das obras com eles, realizamos perguntas semiabertas sobre seu trajeto até o Brasil, sua percepção sobre a representação dos fluxos migratórios no documentário e na ficção e sua visão sobre como a cultura de seu país é traduzida nas obras. Regra geral, notamos na recepção a delimitação da fronteira como espaço dedicado à tradução e compreensão dos discursos e da diferença – processo visto de forma crítica pelos entrevistados em duas direções: (a) tendência a exibir representações de viés negativo sobre os modos de vida e características comportamentais e religiosas dos países e comunidades; e (b) reducionismo extremo e negação da diversidade e multiplicidade de “outros” postos sob representação quando falamos de um país ou mesmo uma região (como a África ou o Oriente Médio). |
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Bibliografia | BHABHA, Homi. O local da cultura. Belo Horizonte: UFMG, 1998. |