ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | A retomada dos filmes de Nahim Miana em produções contemporâneas |
|
Autor | Vanessa Maria Rodrigues |
|
Resumo Expandido | Nahim Miana foi um cineasta doméstico mineiro que fez filmes domésticos nos formatos semiprofissionais (16mm) e não profissionais/amadores (8mm) entre as décadas 1940 a 1970. Nas sequências, tomadas para serem projetadas para familiares e amigos próximos, registros da família em aniversários, batizados, casamentos, passeios, viagens e outros eventos sociais, culturais, esportivos e religiosos comuns à época. No ano 2000, pouco antes de morrer, Nahim doa mais de 30 rolos dessas películas cinematográficas para a Funalfa, em Juiz de Fora (MG). Desde então, as filmagens fazem parte do acervo dessa instituição pública. Ao saírem do espaço privado do lar dos Miana para o âmbito público da Funalfa, os filmes chegaram ao conhecimento de cineastas e foram reempregados em produções como o documentário Cemitério da Memória (Marcos Pimentel, 2003) e a ficção Jonathan (Mariana Musse, 2015). Ainda que tenham diferentes abordagens, ambos os curtas retomam diversos acervos audiovisuais, a maioria deles de material alheio aos realizadores, para trabalhar temáticas relacionadas ao passado, à memória e ao cotidiano antigo. Apesar de retomadas em produções que circularam em festivais e outros espaços de maior abrangência, as filmagens de Nahim Miana ainda são pouco conhecidas da população em geral. Isso porque, nos dois curtas citados, as imagens feitas por ele são compiladas a outros arquivos e só quem tem certa experiência com o acervo é capaz de distingui-las em meio ao fluxo da montagem. Além do mais, há pouca divulgação, pesquisa e dados sobre a existência dos filmes desse cineasta doméstico na Funalfa, o que faz com que essas filmagens, mesmo em ambiente público, ainda permaneçam restritas (RODRIGUES, 2019). Partindo do exposto acima, a proposta desta comunicação é analisar alguns filmes de Nahim reapropriados nesses dois curtas, discutir quem é Nahim, os objetivos que orientam seus registros (o que os enquadramentos e elementos que aparecem e/ou são subtraídos dos planos nos dizem?), as formas de reemprego, os muitos discursos possíveis a partir dessas imagens e as ressignificações que elas ganharam ao serem reincorporadas nas novas produções (o que foi feito delas? Obtiveram outro sentido? Mantiveram o mesmo?). Questões como essas são fundamentais porque, de acordo com o historiador da arte Georges Didi-Huberman, diante dos arquivos, de uma imagem qualquer que seja, é preciso agir como um arqueólogo e escavar, desconfiar e refletir sobre o que é visto (DIDI-HUBERMAN, 2017, 107). Logo, “não podemos trabalhar com a ‘retomada’ dessas imagens, com sua utilização, sem nos interrogarmos sobre o momento único de sua ‘tomada’”. É preciso levar em consideração o olhar do cinegrafista, sua intencionalidade, o que resiste no material visual e se revela nele com o passar do tempo. E se o cineasta não indaga o que reapropria, cabe ao pesquisador se voltar a essas imagens para trazer o que há de latente nelas, buscar suas origens, motivos de enquadramento, meios, modos de produção, condições espaciais, temporais, políticas e históricas, as relações entre quem filma e é filmado, entre outros pontos referentes à sua tomada e retomada (LINDEPERG, 2008). Além disso, a investigação das filmagens segundo seu contexto de produção e da forma como elas são reempregadas na montagem do produto audiovisual contemporâneo também são importantes para tirar a ideia de que os filmes domésticos são “filmes ingênuos de famílias sorridentes”, mas “imagens capazes de experimentar os conflitos e as tensões de seu tempo histórico” (BLANK, 2015, p. 191). Por isso, a necessidade de questioná-las, confrontá-las e até reinterpretá-las, buscando camadas ainda inexploradas, ambivalências, o que está (ou não) em cena mesmo sem a consciência inicial de quem fez o registro. |
|
Bibliografia | ÁLVAREZ, Efrén Cuevas. De vuelta a casa. Variaciones del documental realizado con cine doméstico. In: ÁLVARES, Éfren Cuevas (ed.). La casa abierta: El cine doméstico y sus reciclajes contemporáneos. Madrid: Ocho y Medio, Libros de Cine, S.L., 2010. p. 121-166. |