ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Identificando o palco no gênero musical |
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Autor | Cesar de Siqueira Castanha |
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Resumo Expandido | É entendido que o espaço fílmico, em sua especificidade, surge no cinema ao se desvincular do espaço teatral, quando a linguagem do cinema se distancia de uma linguagem referida como teatro filmado (XAVIER, 2005). No gênero do filme musical, no entanto, estabeleceu-se uma autorreflexão sobre o gênero na sua relação com práticas cênicas e performáticas anteriores e contemporâneas ao cinema. Esta apresentação se volta para esse questionamento ao investigar a aparição reiterada do espaço do palco no filme musical e dos lugares encenados sobre ele. Entre o lançamento de O cantor de jazz (dir. Alan Crosland, 1927) e o ano de 1930, Hollywood havia lançado mais de 200 filmes musicais (LANGFORD, 2005). Nesses primeiros filmes, a “adoção da performance teatral ao vivo e da direta interação com a audiência como ideal performativo” (LANGFORD, 2005) demonstra uma reivindicação formal e narrativa do filme musical como uma continuidade e derivação das apresentações que ocorrem nos palcos de teatro. Isso é enfatizado pelo chamado backstage musical (LANGFORD, 2005), subgênero em que montar um espetáculo se apresenta como o objetivo dos personagens dos filmes, todos profissionais do entretenimento. E os números musicais a que assistimos são o resultado direto desse trabalho. Nesta apresentação, analiso números musicais dos filmes Alô alô Carnaval (dir. Adhemar Gonzaga, 1936), Lourinha do Panamá (dir. Norman Z. McLeod, 1942), Copacabana (dir. Alfred E. Green, 1947) e Cabaret (dir. Bob Fosse, 1972). Cada um dos números analisados encena um lugar sobre seus palcos a partir de empregos distintos de cenografia, figurino e coreografia. Essas encenações de lugar articulam a localização ficcional do palco (em uma rádio, clubes noturnos ou um cabaret berlinense); uma segunda localização sugerida pelos números e seus artifícios cênicos; e as circunstâncias criativas e econômicas dos próprios filmes. Entende-se que a recorrência das estratégias de localização que operam nos números dos backstage musicals se contrapõem a uma expectativa de verossimilhança em torno do conceito e da aparição do lugar no cinema (GORFINKEL e RHODES, 2010), um possível vazamento do real dado que a imagem fílmica deveria necessariamente “tomar lugar” no mundo. A coincidência entre o palco encenado pelos personagens e aquele materialmente presente na audiovisualidade também reitera o “status único” (RAYNER, 2006, p. 180) de que gozam os objetos apresentados em um palco de teatro. Descrevendo uma ontologia dos objetos de cena, a teatróloga Alice Rayner (2006, p. 180 e 181) coloca que “eles participam de dimensões múltiplas”: a das “ficções significativas, narrativas e estilísticas do drama”, a da “realidade material, estética e tangível das coisas em si mesmas” e, enfim, a da mediação, no que esses objetos estão presentes como representações. A identificação do palco, um lugar a que é permitido se referir a qualquer lugar, reposiciona assim o problema da identificação de lugar da audiovisualidade. Interessa-me, desse modo, como o palco do musical tem licença para tomar lugar não como consequência de um vazamento do real da imagem fílmica, mas como uma articulação performática mais difusa, informada por aspectos coreográficos e cênicos que vão bem além da indexicalidade. Como devemos repensar, assim, o ato de localização quando a imagem fílmica toma lugar em um palco de teatro? Para isso, é investigada a maneira como a encenação fílmica interage com práticas coreográficas, partindo do trabalho de Erin Brannigan (2011) com o dancefilm. Aproprio-me também das leituras para o gênero do filme musical ou dos filmes especificamente analisados realizadas por Ethan Mordden (2016) e Carlos Eduardo Pinto de Pinto (2018). |
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Bibliografia | BRANNIGAN, E. Dancefilm: choreography and the moving image. Oxford: Oxford University Press, 2011. |