ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Entre experimentalismos: a imagem afetiva no documentário Passarinhos |
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Autor | Lorena da Silva Figueiredo |
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Resumo Expandido | O presente artigo busca realizar uma reflexão a partir das subjetividades emergentes de um morador de rua chamado Anderson Bernardes Carneiro, Passarinho, e o seu cachorro pela cidade do Rio de Janeiro no curta-metragem de Heloísa Passos. Ao estabelecermos, a câmera como elemento propulsor das relações afetivas. Observamos a criação de um dispositivo que afeta e é afetado desde a maneira experimental que a câmera se revela para o espectador até a construção de devires em que habita este espaço urbano através de um experimentalismo na produção de imagens. Nesta perspectiva corpo-cidade, partimos do uso da cartografia social proposta por Deleuze Guattari e os desdobramentos desta ideia com as corpografias urbanas, conceito aprofundado pela pesquisadora Paola Jacques Bernstein como ferramenta metodológica para entendermos os percursos e caminhos vivenciados por estes personagens. A partir do movimento de câmera e a definição dos planos, a estética criada pela diretora Heloisa Passos se vincula por passagens entre linhas visíveis e invisíveis no desenvolvimento desta imagem afetiva. O desvelar de camadas atravessadas entre o político e o social com o intuito de ampliar a presença deste morador de rua à tela grande, gera um novo movimento variável ao proporcionar a visibilidade diante a opressão social. Jacques Aumont nos diz que: O cinema, uma máquina simbólica de produzir ponto de vista. Gostaríamos de poder aclimatar o intraduzível noção inglês de vantage point, que qualifica os “bons” pontos de vista, os pontos de vista eficazes, aqueles que mostram e traduzem um controle da situação visual. “Pontos vantajosos”, é isso que se trata de produzir, no cinema, a cada instante [...]. A divisa, paradoxal, o olho variável. (AUMONT, 2012, p.77) A partir de deslocamentos tanto físicos quanto mentais, as imagens produzidas pelo curta-metragem se relacionam de forma afetiva com o espectador e promovem novas percepções de mundo. Passos nos dá as pistas sobre os personagens que, ao mesmo tempo, são desvendados pelos olhares de quem está diante deles. “O espectador é também um sujeito com afetos, pulsões e emoções, que intervêm consideravelmente na sua relação com a imagem.” (AUMONT, 2012, p. 114). A cada movimento realizado, as escolhas dos planos se unem à apresentação deste personagem empurrando o seu carrinho de frutas à paisagem em transformação e compõe um desvelar para novas perspectivas que se agregam a análise fílmica ao qual o artigo se propõe a realizar pelas teorias do cinema. Pelo ponto de vista do cachorro, a escolha estética nos permite ver os medos, as angústias e o afeto de não-pertencimento criado entre a cidade do Rio de Janeiro e o seu dono Passarinho. O caminhar, mesmo não sendo uma construção física de um espaço, implica uma transformação do lugar e dos seus significados. A presença física do homem num espaço não mapeado - e o variar das percepções que daí ele recebe ao atravessá-lo - é uma forma de transformação da paisagem que, embora não deixe sinais tangíveis, modifica culturalmente o significado do espaço e, consequentemente, o espaço em si, transformando em lugar. O caminhar produz lugares. (CARERI, 2013, p. 51) Acreditamos que esta obra cinematográfica constitui-se em um mapa aberto de relações estabelecidas pelo poder das imagens afetivas criadas com a estética experimental. As subjetividades sugeridas para a análise fílmica se associam a elementos da cartografia social atrelados a conceitos estabelecidos nas teorias da imagem de Jacques Aumont e Gilles Deleuze. Sendo assim, as trocas estabelecidas pelos deslocamentos visam apresentar novas reflexões através da estética e plasticidade das imagens experimentais desenvolvidas neste documentário. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. A imagem. São Paulo. Editora Papirus, 2012 |