ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | A frustração do cinema nacional e o modelo industrial norte-americano |
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Autor | Debora Regina Taño |
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Resumo Expandido | A afirmação da não existência de indústria de cinema no Brasil surge de pesquisadores, intelectuais e profissionais de cinema que defendem a impossibilidade de o país ter uma indústria de filmes e segue sendo consolidada por estudos acadêmicos da área. Tal afirmação, no entanto, pressupõe um conceito de indústria bastante idealizado e de forma geral associado a um tipo específico de arranjo produtivo. No entanto, assim que uma forma produtiva específica é definida como a correta, qualquer outra atividade, por mais ou menos efetiva que seja, é deslegitimada e, portanto, entendida como inválida. A construção de tal referência de estruturas tem início a partir da década de 1910, quando a indústria cinematográfica norte-americana se consolidou não apenas no mercado interno, mas também como referência estética e produtiva pelo mundo. O domínio da forma narrativa coesa e transparente e da produção praticamente ininterrupta, além da exibição doméstica garantida pela verticalização das companhias fez do cinema dos Estados Unidos, concentrado então em Hollywood, a principal referência de cinema no mundo após a Primeira Guerra Mundial (COSTA, 2005). No Brasil, a partir dos anos 1920, a ideia da industrialização do cinema passou a ser pauta constante tanto de críticos quanto de realizadores. As discussões acerca do que deveria ser feito, qual tipo de filme, o que seria o cinema brasileiro por excelência e como fazê-lo sempre acabavam por ter o modelo norte-americano como referência. Algumas tentativas de verticalização da produção ocorreram, variando o seu tempo de existência e as temáticas dos filmes. Todas elas, no entanto, não satisfizeram a vontade de ver o Brasil com uma indústria consolidada, que garantisse a produção constante de filmes e o alcance ao menos do público doméstico (GALVÃO; SOUZA, 1987). O foco na estrutura física dos estúdios e no modelo hollywoodiano não considerou as características da economia e da indústria nacional, nem o público e como chegar até ele. A partir disso, a proposta do presente trabalho é discutir a possibilidade de que a questão da industrialização do cinema no país não seja apenas uma falta de organização dos realizadores, a incipiente participação do Estado ou o mercado ocupado pelo filme estrangeiro (AUTRAN, 2004), mas uma questão de adoção de um modelo advindo de contexto completamente diverso. Por mais oscilante que fosse, a produção de filmes no país seguiu uma trajetória considerável, sobretudo no período aqui analisado, de 1920 a 1960. Produção essa que em alguns momentos foi feita por estúdios e em outros por realizadores independentes com seus próprios recursos ou com apoio de empresários. A discussão sobre o que deveria ser o cinema e como ele seria feito, no entanto, acabou por focar os esforços para a produção, deixando de lado a parte da distribuição e exibição no modelo hierárquico adotado. A tentativa de seguir o modelo norte-americano, no entanto, não abriu espaço para a adoção de outras lógicas e estruturas de governança que existiam mas não eram valorizadas pelo meio. As teorias institucionais explicam tal comportamento por meio do isomorfismo e da necessidade das organizações em se legitimarem em seu campo (DIMAGGIO; POWELL, 2005). Tal legitimidade muitas vezes se dá pela imitação de práticas que são entendidas como corretas, mesmo que não tenham sido pensadas para aquele contexto no qual estão sendo aplicadas. Ocorre assim um descolamento entre a prática institucionalizada e as atividades reais, entre a legitimação no campo e a eficiência da organização (MEYER; ROWAN, 1977). |
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Bibliografia | AUTRAN, A. O pensamento industrial cinematográfico brasileiro. 2004. Tese, Unicamp, Campinas, 2004. |