ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Peplum, o cinema popular italiano nos anos 1960 e o mundo em mutação |
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Autor | Fabio Luciano Francener Pinheiro |
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Resumo Expandido | As tramas, personagens e temas do filme de gênero têm um apelo junto ao público mais direto que outras formas de arte narrativa, tornando esta categorização uma “forma de expressão cultural coletiva” (SCHATZ, 1981, p. 13). Ao justificar a abordagem do gênero enquanto ritual, ALTMANN (1999) lembra que os esquemas narrativos dos gêneros têm a função de “superação imaginativa de contradições” (p.50) existentes em determinada sociedade e em determinada época. A história do cinema italiano é profundamente orientada para a o filme de gênero. Desde o período silencioso, a indústria italiana privilegiou épicos de aventura e ação como Quo Vadis e Os Últimos Dias de Pompéia (ambos de 1913) e Cabíria (1914). Tais produções tiveram imensa influência nos filmes feitos em Hollywood durante as décadas de 1910 e 1920. A inauguração dos estúdios da Cinecittá, em Roma, deu impulso técnico e artístico ao cinema daquele país, com incentivo para a retomada dos filmes históricos - que retratavam a Roma Imperial - e comédias conhecidas como Telefoni Bianchi. No pós-Guerra, além do prestígio do Neorrealismo, os filmes italianos atravessaram ciclos de popularidade em gêneros como o Peplum, o Western Spaghetti e o Giallo. Para esta comunicação, elegemos e debatemos o Peplum e seu momento histórico. Nas décadas de 1950 e 1960, a Cinecittá, com sua ampla estrutura, mão de obra altamente especializada e expertise artístico, abrigou a produção de filmes históricos, como Quo Vadis (1951) Ben Hur (1959) e Cleópatra (1963). No rastro da produção destes e outros épicos hollywoodianos surge o Peplum, em versão mais econômica e mais popular, também chamado de filme de espada e sandália. O primeiro deles foi La Fatiche di Ercule (1959), de Pietro Francisci, cujo retorno estrondoso de bilheteria na Itália e na versão dublada em inglês nos Estados Unidos abriu caminho para uma fórmula que foi replicada nos sete anos seguintes, em cerca de 300 filmes da categoria. Um típico Peplum segue uma estrutura básica. O protagonista é um herói de nome Hércules, Ajax, Ulisses, Sansão, Ursus ou Maciste – estes dois últimos derivados de produções no período silencioso. Este personagem é interpretado por um homem musculoso – no caso do Ercule de 1959, o fisiculturista e Mr. Universo estadunidense Steve Reeves. Os primeiros Peplum trouxeram protagonistas musculosos estadunidenses como apelo às platéias habituadas aos filmes de Hollywood. Em um momento posterior, eles foram substituídos por intérpretes italianos, igualmente musculosos, com pseudônimos em inglês. A narrativa tem como pano de fundo as aventuras de um herói na antiguidade, seja na Grécia, Roma ou em locais do Velho Testamento, podendo ser situada até na China, Escócia, Rússia feudal ou na Atlântida. Os efeitos visuais (e os monstros) são simples e os elencos entregam atuações amadoras. O nome Peplum deriva da palavra grega latinizada para a saia curta utilizada pelos heróis do gênero, possibilitando a hipervalorização do corpo masculino branco e musculoso. No mercado italiano, tais filmes eram exibidos em cinemas populares, nas periferias ou em ambientes rurais, a ingressos acessíveis. Seu público era essencialmente composto por homens de pouca ou nenhuma educação, como camponeses e trabalhadores braçais (GUNSBERG, 2005). Este perfil do público ajuda a entender o apelo do gênero. A presença de um herói forte e musculoso como libertador de povos oprimidos remete à libertação da Itália pelas forças armadas dos Estados Unidos na II Guerra mundial e à libertação do país do próprio regime fascista. Outra tese sugere que este herói musculoso e branco do Peplum cristalizou as ansiedades de um momento e que a masculinidade da classe trabalhadora italiana era ameaçada por um processo de rápida modernização e industrialização da economia (DYER, 2017). Tais possibilidades de leitura do gênero serão investigadas na comunicação. |
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Bibliografia | ALTMAN, Rick. Film Genre. Londres: BFI, 1999. |