ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Cinema dos primeiros tempos, infância e a entrada na linguagem |
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Autor | Ludmila Moreira Macedo de Carvalho |
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Resumo Expandido | No campo do cinema e educação, percebe-se que diversas atividades pedagógicas de introdução à linguagem do cinema para crianças e jovens são pensadas a partir do surgimento do cinema, dos primeiros aparelhos ópticos (que não por acaso são chamados de brinquedos) e das experimentações de pioneiros como os irmãos Lumière, Alice Guy-Blaché, George Meliès entre outros. À primeira vista, tais exercícios parecem contrastar com a realidade profundamente midiatizada na qual crianças e jovens encontram-se atualmente, com acesso a aparelhos que podem filmar e fotografar (assim como difundir e reproduzir) imagens de forma rápida e extremamente portátil. No entanto, atividades práticas de criação tais como as propostas por Alain Bergala (2008), Alicia Vega (2019) e Adriana Fresquet (2020) nos revelam que, apesar da preponderância das câmeras portáteis e imagens digitais; apesar do tempo e das mudanças tecnológicas que separam os primeiros filmes das crianças de hoje, estes continuam dialogando fortemente com a infância. Podemos pensar os exercícios de criação em educação como exercícios de (re)criação do próprio cinema: vendo, revendo, recriando os primeiros filmes e gestos de criação, é como se a cada vez que uma criança fizesse um exercício desses ela inventasse o cinema de novo e de novo. A partir desta ideia, propomos uma investigação mais detalhada acerca das relações entre a infância e o cinema dos primeiros tempos. Podemos pensar na “invenção” do cinema também como um gesto de infância? É importante dizer que infância, assim como o cinema dos primeiros tempos, é compreendida aqui não enquanto uma fase pré-histórica, incipiente ou rudimentar numa linha de desenvolvimento evolucionista, mas sim como um momento marcado sobretudo pela entrada na linguagem e suas complexidades. Partimos, a partir da psicanálise, de uma visão sobre o processo de entrada na linguagem, que coincide com o movimento de individuação do sujeito, na infância, quando este se percebe ao mesmo tempo como sujeito de desejo e de falta. Jean Pierre Meunier (1969), partido da teoria lacaniana, faz um paralelo entre as primeiras trocas sensórias e a brincadeira simbólica da criança e os estágios de identificação fílmica: o primário, que seria uma identificação com o próprio olhar e a situação espectatória, e o secundário, correspondendo mais à projeção e empatia com situações narrativas e personagens. A partir desta perspectiva propomos pensar a analogia entre a infância e o desenvolvimento do cinema como um momento igualmente marcado pela entrada na linguagem: de um cinema sensorial, de atrações, marcado pelo hibridismo de linguagens, pela experimentação, pela descoberta e pela brincadeira, a uma entrada no sistema simbólico estruturado da narrativa através de constantes negociações com as convenções e os limites do mundo “adulto”. |
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Bibliografia | AZEREDO, V. P. O.; DIAS, M. S. A. Alícia Vega: Taller de Cine para Niños nos labirintos do tempo. In: Revista Maracanan, Rio de Janeiro, N. 22, p. 197-211, set./dez. 2019. |