ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Filmes que descolonizam o ver |
|
Autor | Eliany Salvatierra Machado |
|
Resumo Expandido | O presente texto é o resultado parcial de uma pesquisa, apoiada pelo CNPq, e voltou-se para um estudo apurado das relações entre colonialidade e decolonialidade do ver, a partir do que se entende por colonialidade do saber, poder e do ser, com atenção especial para a identificação de filmes decoloniais. O objetivo da pesquisa visa à identificação de filmes que apresentam, ainda que de forma não sistemática, a perspectiva da decolonialidade do ver no cinema. A pesquisa procura dialogar com autores e autoras como: Luciana Ballestrin (2013), Aníbal Quijano (1992), Joaquín Barriendos (2011), Leo Name (2019) e Silvia Rivera Cusicanqui (2021). No que se refere aos filmes, a partir do entendimento dos conceitos-chave da decolonialidade proporcionado pelo estudo do referencial teórico, cogita-se que as seguintes obras guardam especial relação com o ideário decolonial: Fotograma (2016), dirigido por Luís Henrique Leal e Caio Zatti, Kbela (2015), dirigido por Yasmin Thayná, República (2020), dirigido por Grace Passô, Travessia (2017) e Nascente (2020), ambos dirigidos por Safira Moreira. Cabe ressaltar que os aludidos filmes não esgotam a lista que se pretende reunir ao final da pesquisa. O estudo do referencial teórico feito em paralelo ao visionamento dos filmes possibilitou a reunião de conceitos basilares para o estudo da decolonialidade concomitantemente a um exercício apurado de identificação do que pode ser citado como exemplo desse olhar estético que impele a uma descolonização do ver. O texto de Luciana Ballestrin, América Latina e o giro decolonial, assenta as bases para o entendimento de como se deu a formação do Grupo Modernidade/Colonialidade, responsável pelo cunho do termo “decolonialidade” e pela estipulação de premissas básicas que se relacionam a essa ideia. Entender a perspectiva decolonial é importante para adentrar nas reflexões sobre a colonialidado do ver e compreender como o nosso olhar foi colonizado para ver um outro canibal, sem alma e sem humanidade. Segundo Joaquín Barriendos, "A colonialidade do ver estabeleceria um contraponto tático entre os outros três níveis: o epistemológico (saber), o ontológico (ser) e o corpocrático (ou corpo-político como define Ramón Grosfoguel)".(BARRIENDOS, 2011, p. 41) Barriendos, busca estabelecer uma relação entre a forma como se percebem, se registram as imagens e o reforço das estruturas de poder fundadas na colonização. O autor, em específico, aborda a caracterização do mau e do bom selvagem, entre outros exemplos, na produção de imagens como um forte indício de que as visualidades precisam passar por um processo de escrutínio que leve a uma reflexão a respeito do papel das imagens na perpetuação da lógica de subordinação e subjugação dos povos que suportaram as investidas dos colonizadores. O autor traz também ao debate as noções de etnografia e alteridade, questionando os métodos pelos quais se busca atrelar à ideia daquele que é diferente, diversos signos que aprofundam o distanciamento e, consequentemente, corroboram a noção de que o fundamento desta diferença é exatamente a inferioridade de quem é retratado em relação àquele que detém o poder de caracterizar, especialmente por meio da captura da imagem do outro. A partir da colonialidade do ver estudamos filmes, nacionais, que apresentem uma perspectiva descolonizadora, ainda que seus realizadores/as não tenham o intuito de trabalhar com a perspectiva teórica decolonial. Os filmes que descolonizam o ver são fundamentais para uma educação que tem como princípio a alteridade do Outro. |
|
Bibliografia | BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro decolonial, Revista Brasileira de Ciência Política, no11. Brasília, maio - agosto de 2013, pp. 89-117. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-33522013000200004. Acesso em: 25 de setembro 2021. |