ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Narrativa cotidiana no Cinema de Kiarostami e no Mangá de Taniguchi |
|
Autor | Thiago Henrique Gonçalves Alves |
|
Resumo Expandido | PALAVRAS-CHAVE: cotidiano; semiótica da cultura; narrativa; cinema; quadrinhos O trabalho proposto tem como objeto central de seu estudo questionamentos a respeito da imagem e da narrativa, atrelado a duas expressões artísticas de linguagens diferentes - o cinema e o quadrinho. Para isso, o nosso recorte de estudo são o filme Onde fica a casa do meu amigo?, de Abbas Kiarostami, e o mangá O Homem Que Passeia, de Jiro Taniguchi. Questões como imagem contemporânea e conceitos de narrativas surgidas a partir do cotidiano fazem parte da reflexão que serve como base para a análise dessas obras. A aproximação entre o cinema e as histórias em quadrinhos não é algo novo para acadêmicos e teóricos das áreas. Eisenstein, teórico e realizador de cinema, afirma que muito da linguagem visual do cinema, sobretudo a montagem, provém dos ideogramas pictóricos japoneses. [...] Por exemplo: a imagem para água e imagem para um olho significa “chorar”; a figura de uma orelha perto do desenho de uma porta = “ouvir” (...) Mas isto é montagem! Sim é exatamente o que fazemos no cinema, combinando planos que são descritivos, isolados em significado, neutros em conteúdo - em contextos e séries intelectuais. (EISENSTEIN, 2002, p. 36). Tanto as HQs quanto o cinema provêm de um conceito semelhante, de que ambas são artes feitas em sequência: o cinema, uma sucessão de fotogramas para criar a sensação de movimento; os quadrinhos, bandas desenhadas para desenvolver a história. Eisner dá indícios dessa resposta em seu livro Quadrinhos e arte sequencial: “para lidar com a captura ou o encapsulamento desses eventos no fluxo da narrativa, eles devem ser decompostos em segmentos sequenciados. Esses segmentos são chamados quadrinhos, que não correspondem exatamente aos quadros cinematográficos" (2010, p.39). De modo complementar a esse conceito, McCloud afirma: “cada quadro de um filme é projetado no mesmo espaço - a tela -, enquanto nos quadrinhos, eles ocupam espaços diferentes. O espaço é pros quadrinhos o que o tempo é pro filme” (2005, p. 7). Embora tanto o cinema quanto os quadrinhos não precisem ficar presos a esse conceito, é possível adotar essa ideia de espaço-tempo nas duas formas artísticas. A metodologia utilizada é de natureza teórico-comparativa, e visa tanto observar como Kiarostami e Taniguchi produzem suas imagens quanto buscar a correlação da narrativa do cotidiano nelas. A fundamentação é dividida em textos de ordem teórica sobre linguagem dos quadrinhos e do cinema com textos de Postema (Estrutura Narrativa nos Quadrinhos), Barbieri (As Linguagens dos Quadrinhos), Groensteen (O Sistema dos Quadrinhos), além de Tempo e espaço na cultura japonesa (Kato) e O cotidiano e a história (Heller). Com teóricos do cinema, nos debruçamos sobre Aumont e Bazin, além de livros específicos sobre a obra de Kiarostami (Caminhos de Kiarostami, de Jean-Claude Bernardet, por exemplo) e O real, cara e coroa de Youssef Ishaghpour, que traz uma série de pensamentos, fotos e reflexões sobre vida e obra do cineasta iraniano. Para dar suporte ao estudo das imagens, contamos com os conceitos de Semiótica Cultural e de fronteira de cultura, ambas propostas por Iuri Lotman. “De agora em diante, a dinâmica de cada cultura inclui a multiplicação de todas as comunicações semióticas” (2000, p.126) Com isso, espera-se observar como o cotidiano é utilizado como ferramenta narrativa entre as duas formas de linguagem. O uso dos conceitos de fronteira e de Semiótica da Cultura são fundamentais para estabelecer esse diálogo, pensando na estrutura poliglota entre linguagens proposta por Lotman em A Semiosfera: semiótica das artes e da cultura. A reflexão aqui não fica presa apenas ao campo do cinema ou do quadrinho: indo além, pisando em campos como os dos estudos da imagem, da história e do narrador, elementos fundamentais para se pensar em processos comunicacionais contemporâneos. A escolha dos artistas é apenas um recorte da imensa produção imagética destas duas linguagens. |
|
Bibliografia | AUMONT, Jacques. A estética do filme. 6. ed. Campinas, SP: Papirus, 2008. |