ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Invisibilidades ameaçadoras em Zama (2019) e The Headless Woman (2008) |
|
Autor | Damyler Ferreira Cunha |
|
Resumo Expandido | Assim como em The Headless Woman, em Zama os sons que habitam o extracampo trabalham o mundo enquanto presença/ausência do outro, além de se apresentarem, também, como sons não diegéticos: sons que não acontecem no mundo dos personagens; uma invasão que, nas películas anteriores, ainda não havia aparecido de maneira tão proeminente. São eles as músicas cantadas por Los Índios Tabajaras e um efeito sonoro que se manifesta em determinados momentos em que Don Diego de Zama, o personagem principal, oficial da coroa espanhola, se percebe em sua espera inútil. Além destes novos “invasores”, podemos destacar também um procedimento de desestabilização da narrativa com a rarefação ou suspensão dos sons ambientes utilizado nestes dois filmes. Outra particularidade que se repete na obra da cineasta é o uso do plano do rosto, do pescoço e das orelhas quase sempre ligado à subjetividade do personagem enquadrado, que é acompanhado, em determinados momentos, por sons que parecem encarnar uma perturbação psicofísica que acomete seus corpos. Lucrecia Martel nos deixa mais próximos da escuta de seus personagens através do manejo desses sons, criando uma atmosfera de estranhamento contínuo e ascendente através da falta de referencialidade dos objetos e eventos sonoros que circundam os protagonistas desses filmes. É sobre essas repetições e inovações no uso do extracampo sonoro que nos deteremos ao longo desta apresentação. Sobre a representação da crise existencial de Zama apontada por vários autores (ARCE, 2016; DULCI & LOPEZ, 2019), podemos observar que existe uma espécie de mise-en-scène sonora praticada por Martel – que costuma, a partir da representação da experiência de escuta de seus personagens, revelar o estranhamento de ouvir a si mesmo, ou provocar sustos irremediáveis ao ouvir os sinais do mundo –. Em The Swamp (2001), Mecha sofre um acidente com taças e um garoto, Luchi, sente medo dos latidos de um cachorro que nunca se mostra visível em cena. Em The Holy Girl (2004), temos uma adolescente que crê escutar os sinais sonoros divinos e sua mãe que está acometida por uma doença que lhe faz escutar zumbidos internos, a Síndrome de Ménière. No longa-metragem posterior, The Headless Woman (2008), Verónica escuta e sente que atropelou algo, mas decide não olhar. Nos três filmes, os sons que denotam essas situações acidentais são mantidos no extracampo por tempo suficiente para reforçarem uma atmosfera de presença, de interioridade e de estranhamento em relação àquilo que ficou de fora da visão dos personagens e dos espectadores. Em Zama (2019) podemos apontar ao menos três tipos de invisibilidades ameaçadoras da ordem vivida pelo protagonista que surgem na trilha sonora, do extracampo da cena, são elas: o efeito sonoro ´Don Diego de Zama`, as diversas músicas não diegéticas que escutamos no filme, todas gravações de Los Índios Tabajaras e a estratégia de edição de sons em suspender os sons ambientes da cena para fazer restar o silêncio. |
|
Bibliografia | ARCE, R. (2016), ´El Ejercício de la espera – para una lectura de lo grotesco en Zama, de Antonio de Benedetto`. In: Artelogie, n.8, 2016, pp.2. |