ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Realismo Mágico e a Ontologia Pós-Fotográfica do Cinema Asiático |
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Autor | Cecília Antakly de Mello |
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Resumo Expandido | Minha intenção nesta comunicação será analisar a manifestação do que venho chamando de "realismo fantasmagórico" nos filmes Memória (2021), de Apichatpong Weerasethakul, e Longa Jornada Noite Adentro (2018), de Bi Gan. A principal hipótese a ser explorada é a de que esta manifestação deriva parcialmente de relações e interações desses filmes com a literatura, a geografia e a história da América Latina. A comunicação pertence a uma investigação mais ampla sobre as atuais tendências realistas nos cinemas do Leste / Sudeste Asiático e da América Latina. Nota-se, por um lado, a persistência da indexicalidade na opção frequente pelo realismo Baziniano, alicerçado no plano-sequência, na profundidade de campo, nas filmagens em locação e na ênfase em situações do quotidiano. Por outro lado, é cada vez mais perceptível a incorporação de elementos fantásticos, mágicos e fantasmagóricos na diegese, bem como de eventos inexplicáveis e atmosferas de medo que complicam a relação entre a imagem cinematográfica e o real objetivo. Como consequência, esses filmes se abrem à intersecção de diferentes temporalidades: o presente da realidade fenomenológica, as camadas do passado e o universo da memória que pertence ao tempo das presenças póstumas, e as ocorrências estranhas que podem pertencer ao futuro ou serem simplesmente atemporais. Disso resulta o que venho chamando de “realismo fantasmagórico” (2015), produto da relação entre a ontologia pós-fotográfica (Elsaesser, 2015) e os paradigmas espaciais em transformação no cinema e no audiovisual (Bordwell, 1985; Crary, 1990; Bruno, 2003). Se a própria noção de espaço na cultura visual contemporânea tende à fluidez, é notável o número de experiências cinematográficas na América Latina e no Leste/Sudeste Asiático que colocam em xeque a propriedade indéxica da imagem e do som cinematográficos, que passam a sofrer de uma “desconfiança epistemológica”. Esta desconfiança parece por sua vez denotar o impacto das intensas transformações espaciais e a consequente perda da referência e da memória que vem marcando a história recente das duas regiões. A perda da perspectiva monocular, a transformação do espaço e o desaparecimento da memória, ao mesmo tempo em que trazem à tona um desejo de preservação do real, também parecem sugerir que não é mais possível confiar no que se vê e no que se ouve. Levando essas hipóteses em consideração, meu objetivo será explorar de que forma essa desconfiança epistemológica se manifesta esteticamente nos filmes Memória e Longa Jornada Noite Adentro, nos quais o plano-sequência, espinha dorsal do realismo estético Baziniano, transmuta-se em um amálgama capaz de conter, de uma só vez, múltiplas temporalidades e espacialidades, introduzindo uma dimensão “fantástica” ou “assombrada” à diegese. Ambos os filmes conjugam uma relação privilegiada com a América Latina, principalmente por meio de sua literatura (notadamente Jorge Luis Borges e o “realismo mágico”), mas também por meio de sua geografia e história recentes, confirmando assim a hipótese central do projeto acerca das afinidades entre as duas regiões antípodas - e seus cinemas. |
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Bibliografia | Borges, Cristian (2019), Em busca de um cinema em fuga: o puzzle, o mosaico e o labirinto como chaves da composição fílmica. São Paulo: Perspectiva. |