ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Muito Prazer (1979): O erro e o tempero do imprevisível de David Neves |
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Autor | Gabriel Philippini Ferreira Borges da Silva |
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Resumo Expandido | O ano é 1979. David Neves dirige seu terceiro longa-metragem, Muito Prazer, e dá partida a um novo momento de sua trajetória. Tanto recorrendo a novas possibilidades de financiamento e esquemas de produção para seus filmes, como depurando vontades estilísticas que já vinha desenvolvendo desde seus primeiros curtas-metragens, o crítico-cineasta passa ao período mais perene e consistente de sua realização dirigindo esta pequena crônica da Zona Sul do Rio de Janeiro. A partir da perspectiva de abordagem proposta pela Teoria de Cineastas, especialmente tendo em vista sua atenção ao pensamento deixado pelos próprios realizadores e o estudo de diferentes fontes escritas por e acerca destes (BAGGIO, et al. 2020; BAGGIO, GRAÇA, PENAFRIA, 2015), partimos de entrevistas, rascunhos e diários de gravação deixados por Neves – reunidos em catálogos de mostras (BRITO, FERREIRA, 2015; PESSOA, 2004), livros autorais (NEVES, 1993; NEVES, 2004) e publicações em sua homenagem –, além de entrevistas e relatos deixados por seus colegas – reunidos por exemplo nos já citados catálogos – e estudos já realizados sobre a obra do cineasta (PINTO, 2020) para confrontar diretamente seu estilo manifestado em Muito Prazer. Neste trabalho, analisamos, à luz do conceito de “erro” exposto por Neves [em diário de gravação publicado no catálogo da mostra Paisagens do Rio de Janeiro: A poética de David Neves (BRITO, FERREIRA, 2015)], como o “tempero do imprevisível” e a “displicência” com a mise en scène, tomados aqui como recorrências estilísticas de sua obra, são incorporados ao filme e “dão sabor” ao longa-metragem. Observamos, baseando-nos nos métodos de análise fílmica propostos por David Bordwell (2008), como a realização de Muito Prazer e algumas das escolhas estilísticas de David Neves no longa-metragem – como a preferência por planos-sequências e o uso dos primeiros takes, o uso constante de zooms e reenquadramentos desajeitados, a atenção às gírias e ao falar cotidiano e o emprego de certa diluição narrativa, preferindo o registro de gestos triviais à reiteração dramática das cenas – parecem movidas por um desejo de encontro com o universo íntimo de seus personagens, através da autêntica captura de seus cotidianos. No filme em foco, David Neves parece escolher por um trato intencionalmente “displicente” com a encenação, capaz de conferir ao filme um aspecto de rascunho, de amador, de tal forma que este chega a parecer quase um filme doméstico. Concluímos identificando uma maneira de nos aproximarmos do trabalho de David Neves, um cineasta brasileiro ainda pouco estudado e cujos registros de vida e pensamento seguem pouco sistematizados, tendo como base seus próprios pensamentos e textos. A partir dos interesses expostos por Neves em suas críticas e notas, percebemos em Muito Prazer o emprego de um estilo cinematográfico próprio fundado no “erro”, no apreço pela captura do imprevisível e na busca por uma realização em tom menor, como o próprio crítico-cineasta descrevia. |
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Bibliografia | BAGGIO, E. T.; GRAÇA, A. R.; PENAFRIA, M. Teoria dos Cineastas: uma abordagem para a teoria do cinema. Revista Científica/FAP, Curitiba, v.12, p. 19-32, jan./jun. 2015. |