ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Da informalidade à distribuição independente: o caso Erlanes Duarte |
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Autor | Andréia de Lima Silva |
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Resumo Expandido | No Brasil, a distribuição dos filmes nacionais tem sido, ao longo da história, considerada um dos polos frágeis para a consolidação de um mercado cinematográfico sólido. Em parte, porque historicamente o mercado interno se encontra à margem – já que o mercado americano ao longo dos anos 2000, por exemplo, tem ocupado entre 75% e 85% das salas de cinema no Brasil (Butcher, 2019) –; em parte porque o mercado de distribuição de filmes nacionais ainda tem priorizado os grandes lançamentos do segmento. O resultado disso é um mercado restrito e pouco diverso. No Maranhão, portanto, essa realidade não seria diferente, com o agravante de que no Estado não há políticas públicas para este segmento de mercado, as distribuidoras localizadas no Estado que tem circulação nacional não distribuem os filmes maranhenses e, por fim, apenas cerca de 3% dos municípios maranhenses possuem salas de cinema (Silva, 2018). Em um cenário pouco propício, porém que tem se apresentado prolífico nas últimas duas décadas (pelo menos no quesito produção), o que se estruturou como regra foi um modelo de distribuição própria – ou seja, aquele modelo em que o próprio realizador do filme participa do processo de distribuição negociando os espaços nas salas de cinema. No Maranhão, desde 2007, quando o primeiro longa-metragem de ficção foi lançado no Estado, vinte e uma obras foram produzidas. Dessas, apenas seis tiveram um modelo de distribuição articulado por empresas do ramo (Lume Filmes e O2 Play Filmes). Um caso emblemático dessa transição de modelos é o do cineasta Erlanes Duarte que começou distribuindo os seus próprios filmes e, atualmente, com o lançamento de seu quarto filme (Curupira – o demônio da floresta, 2021), já pôde contar com um modelo de distribuição de uma empresa que promove a circulação de filmes em nível nacional: a O2 Play Filmes. A passagem de um modelo para o outro foi gradual e pautada no grande sucesso de público que os três primeiros filmes da franquia Muleque té doido! (dirigida pelo diretor) atingiu nas salas de cinema e no mercado informal, por meio da pirataria. Muleque té doido! (2014) foi um fenômeno de bilheteria e pirataria no Estado. Ocupou salas em três dos treze cinemas do Estado. Onde foi exibido, ultrapassou a bilheteria de blockbusters hollywoodianos que estavam em cartaz no mesmo período. Conseguiu a façanha de ficar três meses em cartaz. O sucesso catapultou o público para o lançamento do segundo filme, Muleque té doido 2: a Lenda de Dom Sebastião (2016). Dessa vez, o filme foi registrado na ANCINE e pudemos contar com os seguintes dados: o filme foi exibido em 17 salas de cinema do Estado (praticamente todos os cinemas da capital exibiram o longa) com um público total de 69.753 espectadores. Naquele ano o longa ficou entre os 25 filmes brasileiros com maior público no cinema. Em Muleque té doido 3: mais doido ainda! (2019) esse número caiu: o filme foi exibido em 12 salas de cinema com público de 12.471 espectadores, porém houve uma inserção maior do filme em salas de cinema de outras cidades, para além da capital São Luís (MA), chegando a ser exibido em salas de Belém do Pará. Por fim, Muleque té doido 4: morreu Maria Preá (previsão de lançamento em 2022) ganhou visibilidade suficiente para contar com participações especiais como a do Trapalhão Dedé Santana. A distribuição deve seguir a mesma trajetória de Curupira – o demônio da floresta (2021), já que o longa deve ser lançado também em salas de cinema fora do Maranhão e em plataformas de streaming. Percebemos, nesse cenário, que a transição de um modelo de distribuição própria para um modelo independente no Maranhão – ainda que pontual como é o caso de Erlanes – tem menos a ver com mudanças estruturais do mercado cinematográfico do Maranhão e mais próximo de uma elasticidade do mercado local (proprietários de salas de cinema) para incorporar a produção local baseado na bilheteria que os filmes de gênero (principalmente comédia) tem atingido. |
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Bibliografia | AMANCIO, T. (2012). O mundo como vontade de representação. no Piauí. Significação: Revista De Cultura Audiovisual, 39(38), 40-53. https://doi.org/10.11606/issn.2316-7114.sig.2012.71138 |